quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Suor, sangue e lágrimas

De onde saem as palavras, de onde surgem os textos, pretextos, suspiros? Como se dá a construção destas linhas, tão mal escritas e pouco traçadas que unidas formam estas histórias verdadeiras e mentirosas que tentamos escrever? Porquê escrevê-las? Se o caminho é doloroso e o resultado mais ainda?
Todos que escrevem têm seus textos como filhos, birrentos, deseducados, verdadeiros, camuflados quando em terrenos perigosos, mas que nos trazem uma satisfação gigantesca por serem parte de nós. Todos que escrevem sentem as histórias fluindo do cérebro para as mãos, como uma mágica com a qual quase nunca estamos preparados para lidar. Os sentimentos que deviam ser só nossos expostos ao mundo, toda dor e toda felicidade compartilhada através de um João ou Maria que na verdade é esse eu lírico tão "eu".
O pessoal e impessoal se misturam e somos protagonistas das nossas histórias mesmo quando falamos de terceiros. É sob o nosso ponto de vista que você que lê conhecerá tudo, e depende de quem escreve fazer você acreditar na verdade quando ela é uma completa mentira. Nós temos o poder. Ao mesmo tempo temos o maior medo que pode existir: o bloqueio criativo. Quando ele surge ata nossas mãos, veda nossos olhos e costura nossa boca. Sentimos todos os sentimentos do mundo em enxurrada e não sabemos escrevê-los. É preciso conversar com alguém. Qualquer situação pode alavancar o ressurgimento da inspiração escondida e o parto de um novo filho.
Às vezes uma dor severa nos tira o ânimo para escrever, outras tantas uma dor severa nos faz produzir os melhores textos. Felicidades extremas podem nos motivar ou apagar completamente esse desejo de expor um sentimento tão íntimo.
Invadimos as vidas de quem amamos e os transformamos em personagens. Desculpe, mas deveriam sentir-se lisonjeados. Expomos nossos relacionamentos e todos sabem quando começamos e terminamos, são coisas que não dá para esconder. Nossos parentes são criticados e amados em cada linha. Fazemos propaganda dos nossos amigos sem medo que outros venham a roubá-los.
Sentimos mais profundamente que as outras pessoas. Alguns de nós só sabem demonstrar o que sentem escrevendo. Somos diferentes. Somos angústia, insegurança, ódio, amor, amizade, desejo, sonho, realização. Tudo isso em letras, linhas, textos, poemas. Somos suor, sangue e lágrimas em páginas ou telas de um computador.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Acorde

Acorde. Eu sei que é difícil e de vez em quando a idéia de dormir o resto da vida é mais saborosa, mas acorde. Você tem a vida inteira pela frente, tem uma segunda chance, uma terceira, quantas você quiser. Lembre que você já me falou que os gatos têm sete vidas. Acorde para ver o mundo de possibilidades que estão a sua frente, acorde para descobrir que todo dia é um novo aprendizado. Acorde e veja que todos nós te amamos muito. Acorde e me dê um abraço apertado e mate metade dessa saudade que eu sinto. Acorde, nós temos uma festa para ir, vamos falar mal dos parentes e nos divertir. Acorde e eu prometo que deixo você me chamar de todos os apelidos que quiser. Acorde porque estou tão triste que só tenho vontade de chorar, isso dói tanto. Acorde e me diga você que vai ficar tudo bem, aí sim eu acredito. Acorde porque enquanto você dorme eu não durmo e mesmo assim não sou eu a velar seu sono. Acorde, por favor, acorde. Acorde porque eu acredito em milagres e tenho muita fé, mas desta vez estou com muito medo. Acorde e eu nunca mais lhe peço nada. Acorde.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Estelionatário do Amor

Estelionato
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento.

No código penal brasileiro há a tipificação do crime de estelionato. De modo geral estelionato é enganar, mentir, ludibriar. Pelo Código Penal estelionato é usado geralmente para aferir vantagens materiais. Pelo Código Penal. Pela minha visão há um tipo único de estelionatário que faz muito mais que nos tirar o patrimônio, ele nos engana, rouba nossos dias, nossos sentimentos, nossos beijos, nossas crenças, ele rouba nossas esperanças no amor. Esse tipo de estelionatário não raro é um ator exímio, nos ludibria com todo tipo de falácia e poemas, nos faz acreditar que somos as únicas em seu coração, quando na verdade o que eles têm no lugar do coração é uma máquina que contabiliza quantas garotas já foram enganadas. O estelionatário do amor não tem cara de bandido, muito pelo contrário, ele tem cara do mocinho que salva a garota indefesa ao longo do filme. Chega de mansinho com uma fala doce, nos presenteia com poemas, nos arranca suspiros e beijos, cria expectativas em torno de sentimentos que só existem de um lado da história. Ele nos faz promessas, planeja conosco dias de sol e lua, eles marcam encontros, eles combinam sobre o futuro. O estelionatário do amor suga de nós todos os bons sentimentos, um a um eles lhe são direcionados, por fim depois de saciados como vampiros, eles nos abandonam. Nos vemos sozinhas chorando em um quarto escuro, em uma manhã de sábado, por um mês inteiro. Andamos pelas ruas como zumbis, vazias de sentimentos, esperanças, sem forças. Nos apegamos as lágrimas que caem em enxurrada e são uma a uma as dores de um parto, até o abençoado dia em que nos damos conta que fomos vítimas de uma fraude. Sim, induzidas a erro, acreditamos que o fulano mediante todo tipo de mentiras não roubou só nosso coração, roubou nossos sonhos, nosso orgulho e por fim o nosso restinho de dignidade. É como um tapa no rosto a percepção de que fomos vítima de uma fraude tão bem elaborada que ninguém percebeu, e ser vítima causa vergonha, revolta e no fim das contas, graças Deus, causa uma vontade imensa de reagir. Vestimos nossa melhor roupa, nosso sapato mais sexy, nossa maquiagem potente, arrumamos nosso cabelo a lá Bündchen, convidamos nossas melhores amigas e vamos badalar. Não importa o quanto ainda estejamos sofrendo, a resolução de que esse sentimento tem que ser arrancado a fórceps é a mais sensata e o dia-a-dia acaba por fazer desse sentimento ódio, nojo e por fim indiferença. O único problema é que o estelionatário do amor vai voltar a agir, novas vítimas sempre estão por aí, vulneráveis, disponíveis, não por serem ingênuas ou burras mas por terem uma coisa dentro de si que não pode ser arrancada por nenhum bandido: Fé. O estelionatário age baseado justamente nisso, na fé que possuímos, como todo grande babaca, ele usa nosso melhor lado contra nós mesmas e sabe o que mais? Prefiro que use mesmo. Só podemos nos tornar mulheres de verdade depois que passamos pelas mãos de uma grande e indiscutível babaca estelionatário do amor (perceba como fica melhor com o belíssimo adjetivo), depois desta experiência aprendemos milhares de coisas. Aprendemos que somos lindas, independente do nosso peso. Aprendemos que somos inteligentes, independente do nosso IRA, pois inteligência emocional é bem mais importante. Aprendemos que somos ricas, independente da nossa conta bancária, pois temos os melhores amigos que existem. Aprendemos que nunca, absolutamente nunca devemos criar expectativas em relação a outra pessoa, pois nossa felicidade só depende de nós. Finalmente aprendemos o mais importante: O melhor da vida é aprender a se amar, sendo gostosas pra caramba isso não é difícil!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Vai passar

Sinto muito. Por absolutamente tudo. Quisera eu poder trocar de lugar com você e em seu lugar chorar todas as lágrimas que fazem seu coração doer, travar todas as guerras que fazem seu sangue pulsar, dizer todas as barbaridades que fazem sua alma pesar. Colocaria você no colo como se você fosse o meu bebê, faria o que você tantas vezes fez comigo, abraçaria, enxugaria as lágrimas e contaria uma piada bem boba. Levaria você ao cinema e compraria todas as coisas que você quisesse. Eu faria qualquer coisa para desenhar um sorriso em seu rosto e tirar toda essa tristeza de dentro de você, eu faria. Mas eu não posso. Além do mais se eu fosse chorar todas as suas lágrimas você jamais saberia como é bom chorar de felicidade, se eu fosse travar todas as suas batalhas você jamais daria tanto valor a paz, se eu fosse falar suas barbaridades você jamais saberia como é descarregar os sentimentos e como isso nos faz leves. Meu bem, se eu arrancasse a tristeza do seu coração você jamais saberia quão rara e bela é a felicidade e como ela pode ser fugaz. Vai passar, prometo.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Homens de Lata

Na história do Mágico de Oz a menininha Dorothy em meio a um tornado no quintal da sua fazenda no Kansas é levada a uma terra distante povoada por magos, bruxas más, Espantalhos falantes, Homens de Lata, Leões que falam. Assim começa sua jornada tentando voltar para casa ao lado do seu cachorrinho Totó e dos novos amigos. Literatos dizem que é um conto de fadas pós-moderno, alguns críticos acreditam que a história foi escrita usando personagens e partidos do cenário político norte-americano da época, o cinema imortalizou a história aliando a ela umas das músicas mais bonitas já compostas. A história em sí dá margem a várias interpretações, pode ser um sonho psicodélico, uma fábula da vida moderna, um resgatar de valores já esquecidos. Em cada ponto e cada personagem há uma minúcia que pode ser explorada de diversas formas mas, o ponto que me prende e faz querer reler ou rever tantas vezes a história do Mágico de Oz é o Homem de Lata.
Dorothy encontra o Homem de Lata enquanto procura pelo Mágico de Oz para que este lhe mande de volta para casa. O Homem de Lata conta que quando era homem de verdade se apaixonou por uma garota do seu povoado que cuidava de uma velhinha, ao saber dessa paixão e com medo de ficar só a velhinha pede a bruxa má que dê um fim a esse sentimento. A bruxa má prontamente começa a causar pequenos acidentes ao homem, um dia lhe corta as mãos, no outro as pernas e assim por diante, o homem então substitui seus membros por lata, mas nada o faz desistir da garota. Por fim, depois de vê-lo todo reconstituído em lata a bruxa arranca seu coração, levando então embora o amor que o homem sentia pela garota.
Enquanto Dorothy caminha para a Cidade das Esmeraldas para pedir ao grande Mágico de Oz que a mande de volta para casa, o Homem de Lata caminha para que o mago lhe dê de novo um coração. Hora questionado sobre o porque de não querer ter um cérebro (já que sua cabeça também ficou oca e agora é de lata) e sim um coração o Homem responde que já teve os dois e prefere ter um coração para poder amar de novo.
Muitas aventuras são vividas ao longo da história, os personagens são colocados a prova várias vezes e mesmo não tendo um coração o Homem de Lata age sempre baseado nos melhores sentimentos, ele age com amor. Cada personagem demonstra o poder que busca ao longo da história sem perceber, a própria Dorothy estava calçada o caminho todo com sapatinhos mágicos que poderiam levá-la para casa.
Então eu pergunto a você: Quantas vezes ao longo da sua vida você já foi Homem de Lata? Sem coração, mas com uma vontade incrível de sentir as coisas? Quantas vezes já foi Espantalho? Sem cérebro, mas com alternativas lógicas para todos os problemas? Quantas vezes já foi o Leão covarde? Sem coragem, mas com uma capacidade gigantesca de defender os amigos?
Homens de Lata são mais comuns do que pensamos, estão por aí negando sentimentos porque estão sempre se preparando para sentí-los. Se dizendo vazios e durões, mas ajudando velhinhas a atravessar as ruas ou comprando bicicletas para menininas órfãs. Homens e Mulheres de Lata, chorando e enferrujando as armaduras de que tanto se orgulham. As armaduras que tanto protegem, percebe o simbolismo? Armaduras que ao mesmo tempo protegem e prendem, isso me lembra as muralhas. Eu tenho uma vontade incrível de perguntar a esses Homens e Mulheres de Lata se eles têm certeza que são vazios, se querem mesmo ir até a Cidade das Esmeraldas procurar o grande Oz para ganhar um coração. Sair pelo mundo dá trabalho e é perigoso, e tem mais, “não há nada melhor que o nosso lar”, mas que sei eu sobre essas coisas. Posso não saber nada, mas que eu tenho vontade de perguntar: "Sério? Sério mesmo coração?" Eu tenho.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Até breve, ballet!

Eu não sei me despedir. Sei dizer até logo, até amanhã, mas não adeus. Por isso eu digo até breve, já que das poucas coisas que eu sei sobre tudo é que a gente sempre pode voltar atrás. Queria lembrar o dia exato em que tivemos nosso primeiro contanto, não lembro, ou lembro pelo modo como me contam e as interpretações de outros olhos nessa hora podem ser válidas. Dizem que eu implorei para lhe conhecer depois que lhe ví na televisão, eu só falava sobre você e meus olhos brilhavam, eu dançava, pulava e ensaiava o que seriam anos de amor. Amor sim, misturado com uma pitada de paixão, mas no fundo aquele amor estável, seguro, desmedido, inquestionável, e acho eu, que muito recíproco. Como no início de todo amor, nossa vida era brincadeira, era leveza e beleza, com o passar dos anos aprofundou-se e virou renúncia, sofrimento, ganhos e perdas e ainda assim amor. Você moldou meu coração, minha alma e ainda meu corpo. Fez dele morada, jornada, objetivo, meio e fim, enquanto isso fiz de você válvula de escape, amante, amigo, companheiro, inimigo, objetivo, ambição, lisonja. Por você fui a lugares, conheci pessoas, me conheci, redescobri. Nos usamos mútuamente e não nos sentimos usados, nos amamos incondicionalmente e de vez em quando nos sentimos frustrados. Mas eu tenho limites, minha alma sempre será sua, mas meu corpo hoje já não lhe atende como antes. Quando nós não tinhamos limites fui Princesa, Plebéia, Amante, Atriz, Cigana. Hoje sou só bailarina. Amanha serei ex bailarina. Na verdade nunca serei ex, sempre restará dentro de mim essa coisa que nos consome e na ponta do pé essa coisa que nos sustenta, sempre. Das poucas certezas que tenho a maior delas é que cada lágrima, suor e dor valeram a pena, elas foram mínimas diante da felicidade que você me deu. Na verdade você me deu mais coisas que tirou, você foi generoso como só um grande amor consegue ser. Em muitos dias foi minha única motivação, na maioria das vezes foi meu único lado bom, você me fez ser bonita e segura, você me fez. Você é um dos meus relacionamentos mais antigos, você me conhece. Me lembro de ouvir alguém falar que com você sou pássaro. Na verdade você é meu superpoder, pois só você dá a capacidade de me transformar. Se sou pássaro você será sempre o ar que dança em minhas asas. Se sou pássaro você será sempre o céu para o meu vôo. Se sou pássaro posso sempre voltar ao ninho.
Obrigada, meu ballet!
Sua, sempre bailarina.

domingo, 2 de outubro de 2011

Drogas

A primeira vez que você usa drogas é uma sensação incrível. Tem aquela expectativa pelo que se vai sentir, tem aquele medo do que pode acontecer, e tem aquela certeza que você larga quando quiser, afinal você está só provando. Você usa a droga. Torna-se imbatível, nada pode lhe atingir, euforia, ânimo, certeza, felicidade, tudo isso lhe reveste e você tem a mais absoluta certeza que nunca mais vai ficar triste ou de mau humor. É ótimo, mas o efeito passa. Você precisa usar de novo, só para garantir que aquela sensação não foi uma ilusão, você está só fazendo mais um teste então pode largar quando quiser. Assim começa um ciclo, você usa cada vez mais. A cada nova dose há um aumento. Todos percebem que você está visivelmente viciado, menos você. Tudo gira em torno de quando vai usar a droga de novo e quanto tempo vai poder usar. Todo o tempo do mundo não é suficiente para matar o seu vício, você acorda já pensando na droga e vai dormir ainda pensando nela, planeja situações em a droga estará presente e você a terá facilmente, arruma pretextos, se desfaz em planos. Seu dia-a-dia acaba girando involuntariamente ao redor do seu vício. Tudo é melhor com a droga e com essa sensação entorpecedora que ela lhe causa. É tão bom que você quer apresentar seus amigos e deseja que eles sintam o mesmo que você, é bom ao ponto de não poder mais explicar a sensação. Você bom conhecedor de drogas percebe então, que essa droga que anda usando é de alta qualidade, boa mesmo, tão boa que não vai nem querer dividir. Pois é, a droga faz com que seu lado bom apareça e de vez em quando faz também com que seu lado egoísta se sobressaia, mas todo mundo tem uma lado egoísta mesmo que não queira expor. A diferença é que os viciados meio que perdem o poder sobre si e sobre o que sentem, sei lá... Acho que a droga domina tudo. É isso, chega-se a uma fase em que você nem se importa mais em dizer que larga quando quiser. Estar drogado é bom demais. Demais.

P.s: Juro que não estou fazendo apologia às drogas! Juro!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Bondade

Quando eu tinha entre 11 e 12 anos resolví aumentar meu nível de leitura e ir aprimorando o gosto. Meus pais liam em média 20 livros por ano e se eu não lesse não acompanhava o papo do jantar. Pedí que minha mãe me indicasse um livro que ela gostasse muito. Foi a melhor coisa que fiz naquela época, minha mãe conhecendo casa desejo meu, cada cantinho do meu pensamento, me mandou ler um livro que ela mesma tinha lido na adolescência: “Olhai os lírios do campo”, do Érico Veríssimo. Foi amor à primeira vista. A mocinha da história era tudo que eu queria ser... generosa, altruísta, boa, amorosa, leal, fiel e tinha a fé mais inabalável que já ví.
Por anos e ainda hoje persigo esse modelo de ser humano que acho que só existe nos livros. A principal qualidade da Olívia era sua bondade. Hoje eu me pergunto o que é bondade, na verdade na maioria dos dias confundo bondade com sentimentos positivos. A bondade para mim é como um exercício diário, é ser generoso quando na verdade a gente quer ser um pouquinho egoísta, é ceder algumas vezes mesmo que com dificuldade, é ser leal aos amigos mesmo nos dias ruins, é pedir desculpas mesmo que tenhamos que deixar o orgulho de lado, é na verdade ter pouquíssimo orgulho.
É muito fácil ser bom com quem gostamos, difícil é ser bom com aquela pessoa que a gente não suporta, ser bom neste momento não é necessariamente travar uma relação de amizade forçada, poderia ser apenas oferecer um sorriso para a boa convivência. Ser bom é perdoar e esquecer, e essa é a maior luta que pode ser travada, é a guerra interna da maioria das pessoas. Não adianta viver sem generosidade, sem um propósito maior, pois no fim da vida virá a pergunta: Que fiz eu por todos esses anos além de buscar por minha própria felicidade? De que adianta ser tão feliz se do outro lado da rua pessoas sofrem dores inimagináveis?
No fim de tudo essa idéia de bondade e generosidade talvez seja um pouquinho ingênua e alguns diriam até mesmo utópica. Mas sabe de uma coisa? Prefiro a ingênuidade a malícia dos valores modernos. Sou uma menina à moda antiga, sou careta, certinha, responsável e minha preocupação é sim dividida entre o bem e o mal. Eu quero ser boa, rezo todos os dias para que um dia seja.
Coloquei abaixo uma carta da Olívia para o Eugênio que marcou minha vida do dia que lí para sempre!

"O dia mais importante da minha vida foi aquele em que, recordando todos os meus erros, achei que já chegara a hora de procurar uma nova maneira de ser útil ao próximo, de dar novo rumo às minhas relações humanas.

Que era que eu tinha feito senão satisfazer os meus desejos, o meu egoísmo? Podia ser considerada uma criatura boa apenas porque não matava, porque não roubava, porque não agredia? A bondade não deve ser uma virtude passiva.

No dia em que achei Deus, encontrei a paz e ao mesmo tempo percebi que de certa maneira não haveria mais paz para mim. Descobri que a paz interior só se conquista com o sacrifício da paz exterior. Era preciso fazer alguma coisa pelos outros.

O mundo está cheio de sofrimento, de gritos de socorro. Que tinha eu feito até então para diminuir esse sofrimento, para atender a esses apelos? Eu via a meu redor pessoas aflitas que para se salvarem esperavam apenas uma mão que as apoiasse, nada mais que isso. E Deus me dera duas mãos! Pensei em tudo isso numa noite de insônia. Quando o dia nasceu senti que tinha nascido de novo com ele."

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Caetano

Você é um babaca. Eu sei, eles sabem e você mesmo sabe. Mas é um babaca adorável que eu aprendí a amar desde cedo. Por sua causa tive dias lindos, horas lindas, segundos lindos e inspirações para a vida inteira, querido você é um babaca inspirador e isso é lindo. Você foi trilha e desejo do meu ballet. Reparei algumas vezes que dançar com você, sim com você, me fazia flutuar. Tive ciúmes, sou terrível quando gosto muito. Os clichês com você não parecem clichês, são poesia renovada, pintada de ouro com cheiro de pétalas. Te ví no aeroporto uma vez sabe, você nem percebeu meus suspiros, tive vontade de gritar: “vem cá meu nêgo”, e você não acharia uma afronta, acharia bonito sim que te conheço. Não vou ficar aqui discursando e dispersando meu amor, alardear amor dá azar sabe? E você meu bem, já sabe que todas te amam. Só quero te dizer: Caetano Veloso, de vez em quando te amo demais!

Não quero sugar todo seu leite
Nem quero você enfeite do meu ser
Apenas te peço que respeite
O meu louco querer
Não importa com quem você se deite
Que você se deleite seja com quem for
Apenas te peço que aceite
O meu estranho amor
(...)
Nosso estranho amor - Caetano Veloso

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Desculpo sim!

Todo mundo tem um ponto fraco. Aquele calcanhar de Aquiles que se atingido faz a pessoa perder uma guerra inteira. Aquela fragilidade extrema coberta por camadas e camadas de coragem. É mais como uma carta que sustenta um castelo gigantesco de cartas. Algumas pessoas convivem por anos com outra e nunca descobrem o ponto de fragilidade em que o outro perde o equilíbrio da vida, outras nos olham por cinco minutos e enxergam todas as fragilidades que supostamente escondemos. Umas fazem questão de fazer de conta que não enxergam, seja por respeito ao outro, seja por se enxergar também vulnerável ou ainda por medo que o castelo desmorone. Há um tipo específico de gente que faz questão de tripudiar sobre nossos medos, de acabar com nossa alma, de despertar nossos pesadelos, de nos entregar como filhotes de gatos aos gladiadores. Tem gente que mata com uma palavra, tem gente que mata com um olhar.
Eu queria dizer a você, sim exatamente você que me magoa. Eu sou uma das pessoas mais corajosas que conheço, sou mais forte que aqueles caras da luta livre, sou equilibrada, estável, responsável e centrada. Meus amigos me procuram quando têm problemas, não porque eu sou a dona da verdade, mas porque me importo genuinamente com a felicidade deles. Eu sou generosa, coloco as pessoas que amo acima de tudo. Eu sou leal, sou fiel. Defendo com unhas e dentes quem amo e o que acredito. E sim, eu tenho defeitos, mas todo mundo tem. Eu tenho classe, e isso não envolve dinheiro ou bens, eu tenho educação e tenho berço, isso não se compra com dinheiro nenhum do mundo. Eu sou amada, você sabe o que é isso? Amada de verdade, as pessoas se importam comigo e com o que eu sinto e essa, meu bem, é minha maior defesa. Eu não preciso ser grande nem forte, o meu escudo é fortalecido todos os dias. Meu escudo tem tantas camadas que você nunca vai me atingir de verdade, minha família me protege, meus amigos me sustentam e minha fé que as coisas vão melhorar me carrega.
É doloroso ter nossos pesadelos fomentados, mas pesadelos são só sonhos ruins, uma hora a gente acorda sabe? Eu desculpo você. Não porque sou boa, mas porque o perdão liberta e quero ser livre de tudo que não me faz bem. Você é pequena demais, insignificante demais para ocupar meus pensamentos e meus dias. A partir de hoje é um assunto encerrado. Desculpo sim e boa sorte. Só tem mais uma coisa: não vou morrer, na verdade vou sim, quando tiver 100 anos abraçadinha a um velhinho lindo com muitos netinhos e bisnetos, feliz por ter sido generosa, feliz por ter a capacidade de perdoar. Alguém mais esperto que eu me disse que o mal se paga com o bem. Desculpo você.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

09/09

Procurei no restaurante um rosto conhecido, um único rosto. Me lembro como se fosse hoje que já estava atrasada, era semana de provas na faculdade e eu tinha ficado até mais tarde tantando convencer meu professor a corrigir minha prova. Você me viu de longe, eu sei disso. Sentí o seu olhar e fui correndo ao seu encontro. Ganhei o melhor abraço, ganhei meu beijo na testa como tanto gostava, ganhei sentir seu cheiro de novo, ganhei a lembrança da infância. Sentamos para almoçar e enquanto tagarelava sobre minhas provas, minhas saídas, meu namoro ou qualquer outra coisa incrívelmente irrelevante você apenas observava e assentia. Como se tudo que eu falasse fosse tão importante quanto a fome na África. Comemos nossas saladas e toda a nossa comida natureba felizes. Bebemos vinho branco, na verdade eu bebí quase todo o vinho e passei a dar muitas risadas. No fim do almoço eu dei seu presente, a coleção de todos os exemplares de revistas do TEX que eu passei dois anos garimpando por várias cidades do país. Foi uma comemoração e um aniversário em grande estilo. Acho que vai fazer três anos. Queria desejar as mesmas coisas a você, queria abraçá-lo amanhã e ganhar um beijo na testa como se não fosse o seu e sim o meu aniversário. Queria preparar seu café da manhã como fazia quando era criança. São outros tempos, muitos sentimentos mudaram, sou outra pessoa também. Queria que você soubesse de mim um pouquinho, só das coisas boas. Queria muitas coisas, que provavelmente não vou fazer. Talvez eu te ligue amanhã, talvez apareça no jantar para o qual fui convidada, sim convidada. E é estranho ser convidada a voltar a nossa própria casa considerando que ainda tenho roupas, livros e bonecas morando lá. Se eu não aparecer faça o favor de me perdoar, acho que ainda não estou pronta para ser visita. Se eu for por favor, não me trate como se eu fosse um dos seus convidados, não me diga para ficar a vontade na minha própria casa. De todo modo, talvez eu não tenha coragem o suficiente. Então como a carta é minha, o blog é meu e a vida é minha vou desejar Feliz Aniversário aqui. Foda-se todo o resto, é pessoal, mas o que diabos nessa vida não é pessoal? Espero que você ainda tenha sonhos a realizar, espero que consiga ser feliz, espero que aprenda a perdoar e sinceramente que seja perdoado. Certas coisas nunca mudam... mon père! joyeux anniversaire… Je t'aime. (Ao seu estilo)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Carta II

Querido André, na sala de espera, eu vi um menino pousar o olhar no vazio e escorregá-lo até o chão. Fui perseguindo aquele olhar tão triste, e vi como os sapatos dos pacientes se encostavam um no outro, sem desbotar as cores ou desfazer os laços. Olhei ao redor, impaciente, procurando alguma testemunha, mas só se um piano caísse do teto, em acorde menor, para que alguém ouvisse as tristezas daquele menino…
Era preciso mais. Era preciso que Van Gogh saísse de um dos quadros por engano, e também se sentasse ao lado dele, olhando apaixonadamente para o chão. Era preciso que Van Gogh ali estivesse furioso, pincelando as paredes ao nosso redor, até que todos notassem o quanto um par de velhos sapatos podia ser assim, tão belo, quanto os silêncios de um girassol…
E foi nessa hora, ao levantar os olhos, que eu lembrei de você. Os teus sapatos denunciavam o teu andar discreto e os teus gestos silenciosos. Eles chegavam de mansinho, gastos, inaudíveis, pontilhados. Chegavam leves, tão leves: sem assustar os passarinhos.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

REpresentear


Acontece que eu gosto muito de apostar
Aposto com você que de vez em quando sei rimar
Essa rima de hoje é pra você acreditar
Que o presente tem que voltar
Na verdade é um REpresentear

Num dia desses eu fui viajar
Sonhando sempre em ser uma bailarina popstar
Dancei dancei até a ponta do dedindo machucar
Rezei aos pés do Cristo pra sarar
Enquanto isso você aqui nessa cidade a passear
Encontrou um relicário pra me dar

De relicário a presente transformar
Guardou guardou até de presente poder dar
Num dia ruim em que eu só fazia reclamar
Me disse então que tinha uma surpresa pra me dar
Menina boba custou acreditar
Que um presente de verdade fosse ganhar

Depois da aula me chamou pra passear
E logo logo um presente foi me dar
Fiquei feliz pois minhas jóias agora tinha onde guardar
Porém com tantos abraços meu presente logo logo foi quebrar
Menina boba então foi reclamar
Que seu abraço era mesmo de arrazar

Tristinho foi então pra casa a acreditar
Que do presente a menina não tinha aprendido a gostar
Chorou chorou até o presente se colar
Trouxe de volta para REpresentear

Menina boba de tanto se desculpar
Ficou feliz em saber que tudo pode consertar
Deu muitos abraços e beijinhos pra sarar
A dor que tinha causado quando o presente fez quebrar
Com tantos abraços e carinhos pra lhe dar
Menina boba esqueceu de pra casa o presente levar

Menina boba agora triste quer implorar
Que seu presente volte pra lhe consolar
O coração agora apertadinho quer chorar
Com saudade do presente que não soube cuidar

Menino fofo por favor venha me dar
O presente e me Representear
E se depois de toda essa rima você não acreditar
Que com cuidado o presente vou tratar
Tenho como trunfo muitos beijinhos pra lhe dar!

Pesadelo

Não é real. Não pode ser. Acordo assustada. O rosto lavado em suor e lágrimas apesar da temperatura do quarto estar baixa. A chuva forte faz meu pânico aumentar, o medo revira meu estômago e sinto minhas mãos tremerem. Demoro ainda dez minutos para perceber que estou no meu quarto, na minha casa e segura. Acendo as luzes na esperança de que na claridade o medo diminua, desta vez não adianta olhar meus porta-retratos, bilhetes ou qualquer outra coisa que poderia me deixar segura. Desta vez o sonho não foi com nenhuma das pessoas habituais e eu não me sentia no direito de fazer ligações em plena madrugada. Enfrentar os pesadelos sozinha era a única alternativa. Mas eu precisava me certificar que estava tudo bem, deixando as convenções de lado dei o alerta a outra pessoa me sentindo ainda em pânico mas um pouco boba. Esperei com medo de que fosse verdade até que a resposta voltasse. Por fim pude repetir com tranquilidade: Não é real, foi só um sonho ruim. Não dirigiria aquele carro que não era seu sem freio, por uma estrada no interior de outro estado que não conhece. Não andaria sem sinto e a chuva não cairia tão forte. Eu não veria a tragédia. Eu não veria. Mas sabe o que realmente me deixa em pânico a anos com este pesadelo apesar dos protagonistas sempre mudarem? A possibilidade. Sempre existe a possibilidade de que ele aconteça por mais esdrúxula que seja a situação. A possibilidade me deixa em pânico e por mais que os pesadelos sejam recorrentes, por mais que eu me prepare para que eles aconteçam sempre existirá a possibilidade de que um dia se realizem. Afinal de contas por pior que possa parecer os pesadelos são sonhos. Agarrada ao meu escapulário voltei para a cama e rezei todas as orações que consegui lembrar, menos abatida e mais calma tentei lembrar das palavras que já foram usadas para me consolar em outras situações como esta. A chuva caia mais forte e percebi que só conseguiria dormir quando ela parasse. A nova realidade me assustou, agora eu também temeria a chuva? Não sei. Ele vai voltar, o pesadelo. Sempre volta, e agora terei mais uma pessoa adcionada a minha lista para me preocupar, é como um golpe no estômago perceber o quanto gostamos do outro quando julgamos tê-lo perdido. Preparada para a possibilidade do pesadelo voltar, preparada para aceitar que não tenho poder sobre todas as coisas, preparada para o que a vida pode me apresentar tentei voltar a dormir. Sem sucesso. Não dormirei mais hoje. Não dormirei e mesmo assim tenho que repetir: Não é real.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Declaração de Amor

É oficial. Estou apaixonada por você. Muitas pessoas me avisaram disso, mas eu não quis acreditar. Não me lembro quando tudo exatamente começou, mas a sensação do descobrimento é atordoante. Há alguns anos alguém me disse que nada existia sem você, eu não acreditei, falou ainda que em algum momento da vida eu só falaria sobre você, respiraria você, dormiria com você e acordaria todos os dias com você na cebeça. Sem dar importância a premonições fui vivendo e entrelaçando minha vida a você.
Foram milhares de dias ao seu lado, vivendo bons momentos e dias dolorosos. Por sua causa conheci pessoas que hoje são basilares para minha felicidade, por você fui a lugares e fiz renúncias, as primeiras de muitas que estão por vir.
Passei muitas noites ao seu lado, amanheci muitos dias com você. Não posso negar que nem todos os momentos foram felizes. Você me decepcionou diversas vezes, quase me fez desistir na maioria delas, me fez chorar e sofrer, mas eu tenho aquela velha teoria de que amores fáceis não valem a pena.
Você me fez querer ser melhor, me fez querer aprender tudo sobre você para acompanhar sua grandeza. Muitas vezes discordei de você, e essa foi uma das partes mais difíceis, seu discurso de vez em quando é incoerente. Eu ainda me sinto intimidada na sua presença e tenho a plena certeza que nunca saberei tudo sobre você.
Das coisas importantes que tenho a lhe dizer hoje a principal delas é que não posso garantir fidelidade. Sou volúvel e me apaixono por tantas outras coisas ao mesmo tempo. Além do mais você sempre terá tantas outras garotas aos seus pés...Só posso garantir que vou continuar te amando até nos dias que te odeio.
Não posso prever quanto tempo ficaremos juntos, só posso garantir que serão muitos anos pela frente e espero poder enfrentar os dias ruins com o mesmo amor que lhe dedico nos dias bons. Nossa relação será mais séria que qualquer casamento, é mais como um sacerdócio.
Hoje especialmente me sinto meio enfeitiçada por você, espero que essa sensação dure muito tempo. Garanto a você que nos próximos anos vou tentar retribuir tudo que você me deu, vou tentar fazer valer tudo que você proclama, vou tentar não decepcioná-lo, vou tentar acompanhar sua grandeza sem ambições, mas porque ainda acredito muito em você. Se só chamá-lo de amor não bastar as outras pessoas, vou chamá-lo pelos outros nomes em que você pode ser reconhecido: Direito, Justiça, Jurisdição, Verdade, Beleza, Vida!


p.s.: Dedico este texto as amigas e amigos que sentem-se um pouquinho enamorados pelo Direito, mesmo que só de vez em quando. Dedico a quem vive dia após dia estudando na esperança que leis sejam mais que leis e que a idéia de que não há sociedade sem justiça prevaleça. Dedico a todos que ainda têm "fé no homem, fé na vida e fé no que virá"!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Luto

Fulgaz. Efêmero. Passageiro. Adoro essas palavras e assim é a vida. De todas as certezas que temos a maior delas é que um dia o beijo do acordar não mais nos alcançará. O vento não mais baterá em nosso rosto, não assanhará nossos cabelos. Não comeremos mais nossa comida preferida, não sentiremos mais o perfume da pessoa amada. Não seremos mais. Como um passe de mágica que deu errado a linha da vida é cortada e tudo que poderia ser acabou. Só nos resta dor, lembranças e a sensação insuportável de impotência que nos alcança com garras afiadas e não nos deixa. Aprender a lidar com esses sentimentos é como reaprender a viver.
A dor toma por inteiro nossos corpos e transpassa o limite do físico alcançando a alma. Ela faz adoecer cada pedacinho do nosso corpo e torna o dia-a-dia insuportavelmente sofrido, não nos deixa enxergar possibilidades, não nos abandona. Os dias passam e vamos nos acostumando com aquele sofrer que virou nossa sombra, e um dia, tão acostumados com essa sensação entorpecedora nos habituamos a ela. Sofrer não é mais uma opção, mas vamos nos acostumando e aos poucos ele passa a não ocupar todo o nosso dia, depois passa a não ocupar toda a nossa semana, com o tempo ele ocupa apenas o tempo que dedicamos a ele.
As lembranças no início são coloridas com uma camada mágica que torna tudo o que foi vivido mais bonito. É como um quadro da fase surrealista do Salvador Dali, dá margem a tantas interpretações que podemos passar horas a fio fechados para o mundo externo e abertos apenas para as lembranças que temos. Tentamos reviver cada momento na esperança de que o pesadelo não seja real e que a pessoa que amamos nos acorde deste sonho ruim. As lembranças confortam, acalmam e nos diz que aqueles momentos de amor existiram de verdade. É uma fase importante do luto, pois de vez em quando a dor é tão forte que nos faz duvidar o que foi real e o que foi imaginário.
A sensação de impotência nunca irá nos abandonar. Nada nos fará sentir melhor. Repetir a oração “eu trocaria de lugar” nos conforta, a certeza em nossos corações nos acalma, mas nada possibilita uma ação que faça com que a dor e as lembranças sejam menos sofridas. A impotência nos acompanhará por toda a vida e a pior parte dela é quando percebemos que não amamos o suficiente ou não dissemos o suficiente. Quando percebemos que as reservas foram maiores que as entregas, aí sim nos damos conta que nunca mais teremos a oportunidade de dizer de novo, de viver de novo.
Estamos marcados para sempre. Temos que seguir em frente. Qual é a fórmula? Não sei, o luto não nos abandonará, mas não podemos deixar de viver a vida. Os dias aos poucos se tornarão menos sombrios, o dilúvio de lágrimas deixará de cair, aos poucos o sol voltará. Um dia quem sabe você volte a ouvir os sinos de vento. Sim, os sinos de vento.

domingo, 21 de agosto de 2011

Presente


O presente apresenta definições que parecem explicar tempo, objeto, ou ação. O dia em que se vive, o que pode ser presenteado, o ato de presentear. Todas as definições são plausíveis e entendíveis, o que não é dito ou não é definido em nenhum dicionário são os sentimentos vividos no dia a dia ou no ato de receber atenção através de um objeto. Explicitar o que se sente é expor, desmistificar, desmascarar. É colocar as situações e ações em uma lupa e conseguir enxergar as minúcias por trás dos sorrisos. Se admitir feliz é bom. Se admitir lisonjeada também. Porque será que o momento atual foi definido como presente? Todo presente é uma dádiva? Todo minuto é uma nova possibilidade?
E porque será que o ato de transferir a posse de um objeto em definitivo a outra pessoa se denomina presentar? Que pode ser doar ou oferecer? Que há por trás do simbolismo de presentear uma pessoa numa data especial? Ou apenas presentear pelo simples fato de sentir vontade?
Quando se é uma pessoa apegada a palavras as vezes os gestos têm uma capacidade incrível de surpreender. Se temos limitações em demonstrar o quanto nos importamos ou o quanto nos orgulhamos com palavras, os gestos podem ser mais precisos? Se sentimentos não podem ser discutidos ou não nos sentimos confortáveis para rotular relações, abraços podem representar mais que abraços? E presentes podem ser recomeços?
A literalidade da palavra nos diz que presente é diferente de ausente, é diferente de futuro e mais ainda, é diferente de passado. Mas para as pessoas apegadas ao tempo o que é passado, pode ser presente e ao mesmo tempo futuro. E se o futuro é sempre uma interrogação, nada melhor então que o presente que no sentido figurado da palavra significa “gravado no coração”.
O que se pode questionar é com que facilidade o que já foi gravado pode ser apagado, e se foi gravado de verdade, mas de verdade mesmo, se o pulo no abismo já foi dado, qual a importância da variação de passado, presente e futuro? E o que isso realmente significa partindo do pressuposto de que o tempo é uma abstração?
Mais ainda, se presente quando é presentear significa: dádiva, mimo, oferta, prenda, se significa demonstrar alguma coisa que se sente por menor que seja através de um ato então para que serviriam as palavras? De que adiantariam se nem todas as palavras são tão cuidadosamente polidas como determinados atos? Se tudo quando falado em voz alta vira verdade? Se promessas para serem quebradas bastam que sejam proferidas?
Tantos questionamentos precisam ser feitos? Ou se agarrar ao instante ou objeto é o necessário para ser feliz?

Perguntas sempre serão formuladas. Certas perguntas nunca serão respondidas. Outras tantas nunca precisarão de respostas, e de verdade? o presente já é o presente!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Dúvidas

Sempre tive uma natureza questionadora. A alguns anos um professor me disse que se guardasse todas as dúvidas para mim, no fim da vida meu rosto seria uma interrogação, embora minha personalidade beirasse mais a exclamação. Nunca fui muito boa em guardar conclusões, que dirá questionamentos. De tempos em tempos caio na espiral de questionar tanto, mas tanto que acabo pairando no limiar entre a sanidade e a neurose. Me vejo novamente na encruzilhada que é viver, decidir e emergir das crises com novas resoluções. Da menina que fui com tantos sonhos e planos, quais deles eu realizei, que caminhos percorri, que atalhos peguei? Dos valores que finquei como base para minha vida, quais deles esqueci, quais venho seguindo? A pessoa que eu queria muito, muito, muito ser, eu me tornei ela, ou me perdi no meio do caminho? Dos objetivos que tracei, baseada nos sonhos que queria construir, quais eu realizei? Porque tenho a nítida sensação que a imagem que vejo não é quem sou? E se não gosto de quem sou, o que posso fazer para mudar? Se nos últimos tempos esqueci o que queria, se pelo meio do caminho eu deixei o querer sobrepor o ser, que posso fazer hoje para voltar a ser quem posso ser de verdade? Se queria ser uma pessoa genuinamente boa, desprendida, corajosa e forte, em que parcela do caminho me tornei má, egoísta, medrosa e fraca? Se as qualidades que via em mim mesma e tanto fazia me orgulhar não consigo mais enxergar o que posso fazer para voltar a possuí-las? Se profissionalmente me vejo perdida na entrada de um caminho bifurcado, se me vejo querendo coisas tão opostas, qual a melhor decisão a tomar? Se me encontro quase na linha de chegada e não me enxergo como uma pessoa competente o sufiente para cruzá-la , será que posso voltar ao início da corrida? Serei mais uma a percorrer esse caminho? Serei mais uma na multidão de gente que não quer só existir, mas sim viver? O tipo de justiça em que acreditava ainda existe? O que eu posso fazer de verdade para contribuir, sem utopias ou quimeras? Se pessoas me idealizam e projetam uma imagem da qual não me acho digna, quem vive na ilusão? Eu ou elas? Se outras tantas criam expectativas que não posso corresponder, quem se decepcionará? Eu ou elas? Se tenho a consciência que nunca serei aquilo que esperam de mim, quem sofre mais? E se na verdade tenho a obrigação de corresponder, já que todas a oportunidades me foram dadas, todo o aparato me foi proposto e tudo que quis possuí, porque não me sinto capaz? Se não me sinto no direito de expor tantas dúvidas, porque deixo você ler o que escrevo?

Fazer tantos questionamentos é sadio? Ou mais sadio é viver sob o véu obscuro da resignação?

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Valsinha para Marília

Oh! Minha pequena maravilha
Marília, meu tesouro
Mais que diamante, prata e ouro
A jóia da vida
Lapidada em fino tafetá
Pérola que a ostra nem sonhou gerar
Brilhante, safira

Oh! Minha pequena maravilha
Marília, minha estrela
Nos céus de Natal , Belém, Brasília
Nos guia e ao vê-la
Brilhar mais que a estrela da manhã
Alfa de Centauro, Aldebarã
Os magos ajoelham

Oh! Minha pequena maravilha
Marília, poesia
A mais bela rima e melodia
Na trilha da vida
Sou teu menestreu, sou teu Dirceu
Ninguém vai te amar mais do que eu
Marília, minha filha

O melhor lugar do mundo


O melhor lugar do mundo é também o mais confortável. É aconchegante quando faz frio e mantém a gente aquecida. É confortável quando se está com sono e parece um berço de criança. O melhor lugar do mundo também é bom quando estamos nervosos, ele nos trás paz, acalma e parece que consegue esticar nossos nervos. O melhor lugar do mundo é ótimo quando estamos com medo, ele nos conforta e funciona como um santuário. O melhor lugar do mundo é também o mais cheiroso, a gente fica lá aspirando aquele perfume e rezando para que ele não acabe. O melhor lugar do mundo é muito bom depois de uma briga, é meio como fazer as pazes sabe? A gente tem a sensação que vai ficar tudo bem. O melhor lugar do mundo é ótimo quando a gente está triste, ele conforta e não se importa se você dá uma choradinha, ele acalma e faz você esquecer essa tristeza as vezes tão boba. O melhor lugar do mundo é ainda melhor quando você está feliz, ele parece comemorar cada gotinha de bom humor e alegria do seu mundo. O melhor lugar do mundo é bom mesmo quando a gente tem medo, ele parece não poder abrigar bichos papões e os pesadelos não têm vez nesse lugar. O melhor lugar do mundo está sempre pronto para nos receber, não importa o quão errados estejamos ou o quanto tenhamos decepcionado as pessoas. O melhor lugar do mundo guarda nossas melhores lembranças, é como um baú sem fundo que vai guardando tudo até que estejamos prontos para olhá-las de novo. O melhor lugar do mundo está sempre de braços abertos para nos receber. O melhor lugar do mundo é um abraço, mas não é qualquer abraço. É o abraço da minha mãe, o melhor lugar do mundo, o melhor abraço do mundo, a melhor mãe do mundo.

domingo, 14 de agosto de 2011

Perguntas que dão frutos

. Quem olha para você do outro lado do espelho?

. O que é real e o que é imaginário ali?

. Há encontro entre seu corpo e seu reflexo?

. Você leva sua vida como um presente?

. Você conseguiu ser o que queria ser quando crescesse?

. Você cresceu?

. Você já desejou ser outra ‘coisa’?

. Você tem medo da sua sombra?

. Sua presença entra em sintonia ou faz barulho na casa da Vida?

. Você acredita na felicidade fora da perfeição?

Querer e poder nem sempre alcançam uma harmonia perfeita na ciranda do Existir, mas nem por isso nossa história deixa de ser bela. Entre cores e poesias, entre perguntas com e sem respostas, entre a dor e o amor, e com uma grande vontade de aceitar as simplicidades e frustrações, o importante é não perder o frescor dos traços que formam o esboço e o fascínio do nosso viver.

E quanto as perguntas da vida, ao que houver resposta, respostas se darão, e ao que não for de respostas, ficam sendo perguntas que caem ao chão.

Viram sementes e germinarão.

Aposta

Duas da manhã. A hora crucial em que decidiam se voltavam para casa ou pulavam para a próxima festa. Fizeram uma aposta: Duvido que você convença aquele cara lá no cantinho do bar que ele foi seu primeiro amor. Duvido.
Aposta aceita, arrumou o cabelo, retocou o batom, pegou mais uma cerveja no bar e saiu em dispara em direção a sua missão.
Bate no ombro do desconhecido.
-Oooi, Felipe!
-Meu nome é Gabriel.
-Não, não! É Felipe, estudei com você na quarta série. Não lembra de mim?
-Não tenho como ter estudado com você, não sou daqui.
-Estudou sim, você era gago e foi meu primeiro amor...
(...)
Horas depois os dois saem de mãos dadas. Namoraram por trê anos. Ele não foi seu primeiro amor, mas depois de alguns traumas ficou gago.
Aposta ganha.

Feliz dia dos Pais

Para todos aqueles que trocaram fraldas, colocaram para dormir e contaram uma história. Para aqueles que aprenderam a pentear os cabelos das filhas e fazer tranças bonitas. Para aqueles que ensinaram a amarrar os cadarços dos tênis e cuidaram dos machucados nos joelhos dando beijinhos depois. Para aqueles que foram nas apresentações do bellet, assistiram tudo da primeira fila e ainda filmaram como se fosse uma obra imperdível. Para aqueles que ensinaram os filhos a ler antes das outras crianças da escola e mostraram o mundo de possibilidades que isso representava. Para aqueles que levaram para andar de trem, de ônibus e compraram sorvete de pistache na volta para casa. Para aqueles que levaram os filhos para acampar, mesmo que fosse no quintal de casa. Para aqueles que compraram papagaios, patos, guinés, hamsters, cavalos, cachorros, gatos, ou qualquer outro bicho de estimação que fizesse sentindo para as filhas na época. Para aqueles que faltaram ao trabalho para cuidar de catapora, sarampo ou piolho. Para aqueles que levaram nas aulas do inglês, do francês ou qualquer outra aula. Para aqueles que foram nas reuniões da escola. Para aqueles que deixaram as filhas tomarem banho de mar com suas roupas mais chics. Para aqueles que ensinaram a andar de bicicleta. Para aqueles que compraram pizza para comemorar o aniversário da barbie. Para aqueles que levaram a igreja e ensinaram a rezar. Para aqueles que tornaram a infância dos filhos especial, para aqueles que dedicaram tempo, cuidado e amor. Para aqueles que foram Pais no sentido real da palavra. Para aqueles que são Pais. Para aqueles que serão Pais. Feliz dia dos Pais.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Phelps

Querida, não há muita coisa a dizer e mesmo assim me sinto compelida a escrever para você. Não é seu aniversário e não ficaremos longe uma da outra por tanto tempo assim. Acontece que sinto um necessidade incrível de ter você na minha vida. Sinto uma necessidade absurda de ouvir sua risada. Você chegou na minha vida de mansinho e foi preenchendo espaços que quase não existiam. Nosso primeiro encontro foi marcado por um amor em comum: sapatos. Eu ainda lembro os sapatos que você usava, e meu bem eles eram lindos.

Tomou conta dos meus dias, das minhas risadas e também das minhas aflições. Companheria da primeira cadeira na fila e partilhamos o amor ao melhor professor que já tivemos. Aos poucos foi participando da minha vida pessoal de um modo como outras pessoas nunca terão acesso e você sabe disso. Nós compartilhamos tantas alegrias, tantas tequilas, tantas cervejas e compartilhamos lágrimas, aflições, medos.

Mensagens desesperadas do Rio de Janeiro: Estou voltando. Mensagens desesperadas de Natal: O namoro acabou. Nós nos entedíamos na dor dos fins dos relacionamentos e fizemos juras de não namorar sério enquanto vivermos, que estão para serem quebradas não é meu bem? Nos divertimos as custas dos outros e viramos críticas de moda ferrenhas. Nos esforçamos por um objetivo e descobrimos que somos por inteiro garotas-ministério-público. Que de mais belo há do que a descoberta de um novo amor?

Somamos nossas inseguranças, nossos desejos e nosso pouco dinheiro. Viramos a família mais sólida que eu conheço e no fim das contas eu finalmente tive minha família de comercial de margarina. Você entende isso num nível tão profundo que outras pessoas jamais entenderão. Com você não tenho defesas nem barreiras emocionais. Com você eu sou livre para sentir e demonstrar de um modo como sempre achei que não fosse capaz. Você me inspira tanta confiança que não saberia mais não tê-la em minha vida. Quem mais choraria comigo numa escada as quatro da manhã? Seguraria minha mão, me abraçaria e prometeria que ia ficar tudo bem, mesmo sem ter certeza? Quem mais se preocuparia se eu estava magoada demais com minha família para perdoar? Quem mais torceria tanto por mim?

Você acredita em mim de um modo que nem eu mesma consigo. Sempre foi minha maior incentivadora: Escreva, você precisa e sabe disso. Você lê qualquer coisa que eu escreva e acha lindo, mesmo que só haja dor, enxerga tanta beleza onde só deveria haver tristeza. E quando eu te ligo dizendo que estou extraordinariamente feliz você fica feliz também não importa o que esteja acontecendo em sua vida. Cuida de mim quando eu estou doente de um modo que só uma mãe faria.

Sinto necessidade de me desculpar se eu fui egoísta com você alguma vez, a gente sempre acaba magoando quem ama demais. Odeio minimizar seus problemas, mas quero demais que você seja feliz, mas a felicidade sempre vem a galope e chega rápido para os merecedores. Você vai ao encontro dela desta vez, e sabe o que mais? Não julgo, o amor é raro demais para ser deixado de lado por problemas menores.

A coisa mais importante que eu tenho a dizer é que eu também encontrei minha alma gêmea. E é você. Nós sabemos disso a algum tempo não é? Nos entendemos rápido demais e isso é simples. Este relacionamento é o mais simples que eu tenho em minha vida. É básico, puro, verdadeiro e leal. Não há barreiras, restrições, ponderações ou desconfianças. É engraçado, pois há uma certeza que nunca tive. Prestou atenção no nosso diálogo hoje? “Você deve se sentir no direito de ligar”, “Eu ligo para você porque você me ama”, “Volto a qualquer hora que você precisar”. Já reparou quando vamos desligar o telefone? As últimas palavras que sempre dizemos e as pessoas riem? “Amo você”. É lindo!

Já comprovamos que não há distância e não há tempo, não há doença e não há dor, não há medo e não existem planos que mudem o que construímos. Você é a irmã que eu ganhei do céu e é a família que eu conto. Amo você de um modo básico e simples. É isso.

“Só há um Phelps que eu ame na vida”

P.S:Insira aí as atualizações que quiser, traidora do movimento!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Carta

Estive aqui sentada, desenrolando uma pergunta entre os dedos: de onde a gente começa a escrever uma carta? Em qual fatia do tempo ou do espaço? Em qual gesto? Em qual silêncio? Em qual rua estreita ou imaginária, a gente começa a levantar uma ponte sobre os longes de alguém? E até onde podem ir as palavras?
Porque existe isso de me sentar nessa mesa e desenrolar outra pergunta entre os dedos: até onde a gente pode escrever uma carta? Até a rua mais próxima? Até um brinquedo velho, feio, esquecido na infância? Até uma folha flutuando no lago? Ou até os outros olhos no espelho?
Porque também existe isso de me sentar naquela cadeira a sua frente, e liquefazer os meus labirintos, desaguando a solidão em palavras. Palavras que vou tecendo nessas linhas até escapar do Minotauro. Qual a distância segura entre as palavras e o corpo? Ou entre os textos e a pele? Ou entre os tecidos e as teias?

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Dual

Tem gente que consegue ser despegado de todas as coisas, tudo é irrelevante, tudo pode ser deixado de lado e tudo vira vazio, pois nada é importante demais ao ponto de preencher os muitos espaços que se têm dentro de si. Tem gente que consegue viver sem se preocupar com muita coisa, tudo é simples e tudo é lindo, toda dor ou amor é fácil e fulgaz demais. Tem gente que descomplica tudo e vive plenamente, tudo é como o desatar de nós de um colar guardado a muito tempo. Tem gente que tem habilidades para acalmar e apaziguar, tudo é meio termo e tudo pode ser resolvido. Tem gente que consegue decidir a vida e não muda de idéia, todo plano é posto em prática, toda decisão é imediata. Tem gente que consegue esquecer com facilidade, toda a memória dura três segundos. Tem gente que consegue lembrar, tudo que é vivido é revivido. Tem gente que consegue não se importar e tudo acaba sendo mais fácil, nenhuma preocupação, nenhuma dor de cabeça, nenhum sofrimento. Tem gente que consegue se importar, tudo é mais verdadeiro, tudo é real. Tem gente que sabe a fórmula dos problemas e tudo vira equação com resultados do tipo dois mais dois. Tem gente que consegue e sabe.
Tem gente que é apegado demais, tudo é importante demais e intenso demais. Tem gente que se preocupa demais, tudo é para ontem e tudo é difícil. Tem gente que complica demais, tudo é abismo ou tudo é montanha. Tem gente que é como uma guerra, toda palavra é ordália, tiro ou bomba atômica. Tem gente que é indeciso, todo sim dura o tempo de dizer um não. Tem gente que esquece com facilidade e todo erro é cometido mais de dez vezes. Tem gente que lembra com facilidade e todo rancor é revivido dia após dia. Tem gente que não se importa, não há consideração, não há sentimento. Tem gente que se importa, nada que se faça é corresponder o suficiente. Tem gente que sabe a fórmula dos problemas, nada é aprendido, pois sem dor não há crescimento.
Há todo tipo de gente no mundo. Gente que consegue e sabe, gente que não consegue e não sabe. Há todo tipo de gente dentro de cada um de nós.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Tempo

A alguns anos em uma viagem me deparei com um provérbio ou poema irlandês, não sei bem ao certo, que ficou guardado na minha cabeça e virou um mantra que venho repetindo desde então: “Não confie em nada se for necessário, mas confie nas horas. Não foram elas que carregaram você para todos os lugares até hoje?”
Em um análise bem simples o provérbio nos fala sobre confiar no tempo e em como é ele o grande maestro dos acontecimentos, sejam eles calmaria ou tempestades. Venho fazendo análises sobre o tempo e escrevendo sobre ele a anos. É meu melhor amigo e meu maior inimigo. É meu maior conforto e meu maior medo. Nada melhor que o tempo para tirar os acontecimentos do foco principal e nos fazer enxergar a verdadeira lição por trás de tudo. Nada melhor que o tempo para nos fazer mais maduros e mais belos. Nada melhor que o tempo. Nada pior que o tempo para nos fazer perder laços que julgávamos inquebráveis. Nada pior que o tempo para tirar pessoas de nossas vidas. Nada pior que o tempo para nos fazer esquecer ou quem sabe lembrar. Nada pior que o tempo.
O tempo tem que ser aceito com resignação e fé desmedida. Não adianta correr atrás dele ou tentar ultrapassá-lo. Ele é como a areia que tentamos prender em nossas mãos e escorrega por entre os dedos. É como uma nuvem que tentamos segurar e se desmancha no ar. Passa rápido quando desejamos que passe devagar. Passa devagar demais quando desejamos que passe rápido. Minutos são horas e horas são segundos. Ele tem vontade própria e ritmo próprio. É insuperável como uma criança afoita que corre rápido demais e não pode ser contida.
Tudo, absolutamente tudo na vida acontece no tempo exato em que tem que acontecer. Deus, os astros e Gaia determinam o plano maior e o momento exato dos acontecimentos. Não adianta tentar se antecipar ou adiar. As coisas acontecem e não podem ser contidas. Quanto mais se luta contra as determinações do tempo mais forte somos derrubados no mar do destino. O tempo, o acaso, o destino e a sorte são melhores amigos.
O destino supõe uma força externa de alguma inteligência, ou uma estrutura fixa que determina nossas vidas, alguma coisa que a gente não pode evitar ou mudar. Sorte é o nome que se dá ao acaso quando ele trabalha dramaticamente a nosso favor ou contra a gente. O acaso é uma lei universal observável. O tempo anda aliado a eles de uma forma que juntos traçam uma trama complexa em torno dos acontecimentos e sentimentos que regem nossas vidas.
Os problemas, dilemas, dores, felicidades, amores, realizações só acontecem quando estamos prontos para vivenciá-los, embora aparentemente algumas vezes tenhamos a nítida impressão que não é a hora certa ou acabemos tentando negar a força e a grandeza que temos dentro de nós. Mas o tempo, o destino, o acaso e a sorte não podem ser contidos.
Continuo confiando no tempo. Continuo enxergando o tempo e o achando palpável como aqueles lindos deuses indianos em seus palácios de ouro: “(...) Já ouviu falar em deuses aceitando migalhas? Nem eu (...)”. Me agarro ao tempo e repito meu mantra. O destino muda, a sorte muda, mas o tempo, meu bem, o tempo nos dá tudo e nos tira tudo, cabe a nós sabermos enxergar a sutileza do merecimento ou do plano divino.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sobre o querer

Na teia em que você se prende para não mais voltar não impede que se faça um atalho. No caminho que você decide percorrer avante e em frente não te impede de dar dois passos para trás. No lugar que você procura refúgio não impede que você seja exposto . Ir e vir nesse trânsito de decisões e decepções é mais fácil do que se imagina. Tomar de volta tudo que era seu deve ser fácil quando está ao seu alcance.

Querer muito uma coisa é bom. Desejar, sonhar, esperar e torcer para alcançar pelo menos a ponta dos desejos. Você se pega planejando como será, o que fará e idealiza também o que sentirá. No meio do caminho algumas vezes fraqueja, não se acha merecedor do seu quinhão de felicidade. Então você se sente obcecado pelo desejo. Se pega pensando nisso no meio de uma prova. Se contorce e destorce a realidade. Até o dia que alcança o objetivo, satisfaz o desejo ou abraça o reencontro.

Nada do que você idealizou o preparou para o momento específico em que você realiza seu desejo. O único problema é que quando se quer muito uma coisa e se idealiza muito sobre ela a realidade pode sobrepujar a fantasia. E a fantasia, meu bem, tem olhos calmos e fala mansa. E a realidade? A realidade é que a vezes o caminho para atingir o desejo é mais bonito que a realização do desejo em si. O que se sonhava, almejava e idealizava não condiz com a vida em volta.

Quando o querer lhe turva a visão e lhe engana um dia você acorda. Acordar e perceber que o que se queria talvez nem valha mais a pena ou nem seja tão bom quanto se imaginava lhe tira o chão. Quando o querer vira “uma querência” de criança que bate o pé, quando o querer é martírio e quando o realizar vira o arrependimento você se questiona, é isso mesmo que quero para mim?

E se perguntar isso depois de tanto tempo é foda!

P.S:Peguei emprestado o "querência" da Mariana e o "é foda" mariliado dedico ao Yuri Andrews!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Tristeza

Quando você chega de mansinho e toma conta de mim. Quando arromba portas sem avisar. Quando pula o muro, a janela e invade todos os espaços. Me atordoa, me incapacita, subjuga e canta vitória. Me reprime, me esconde e afasta o resto da humanidade de mim. Conhece meus pensamentos, meus sonhos, meus medos. Conhece minhas fraquezas, minhas dores, minha história. Sabe dos meus passos, meus amigos, meus inimigos.
Quando anda comigo como uma sombra, me persegue e não me larga. Quando adivinha meus pensamentos e me encurrala em todos os lugares. Poderia ser minha melhor amiga, mas eu não quero, não mereço. Na verdade eu a odeio, queria que você não existisse, mas você é temperamental e sazonal.
Com uma única palavra volta para a minha vida e tem o poder de fazer estragos como um terremoto. Você acaba comigo e nem tem pena de mim. Destrói meus planos e não se preocupa se sobreviverei a você. Não liga se sempre choro por você e como isso me dói. Vai e volta como se minha vida estivesse a postos para recebê-la a qualquer momento.
Você não tem a consideração nem de me avisar quando vai chegar. É como uma visita incoveniente que chega quando a gente está saindo de casa. Mas você é pior. Me faz ficar dias e dias sem querer sair da cama. Me faz reviver todas as dores e chorar feito uma louca. Não me deixa ver uma luz no fim do túnel e isso acaba comigo.
Me lembra das minhas perdas e me faz chorar por elas de novo. É sentimento hemofílico que quando vai se curando é ferida aberta de novo que só sangra. Não tenho cura para você. Me lembra de todas as palavras já ditas e que já fiquei em pedaços. Sua memória acaba comigo. Queria que você nunca mais voltasse, mas você sempre volta.
Não sei me proteger disso. Quando peço aos céus que isso não aconteça de novo, quando imploro para que você me esqueça...Mas você sempre volta. Sempre. De repente você vai embora e todo e peso se vai. Penso em possibilidades e felicidades. Esqueço de você, me sinto livre, leve e volto a viver a normalidade. O mundo me espera e é só meu.
Os sábados lindos, as manhãs de sol. A noite as estrelas. Mas como um raio você chega e atravessa meu peito. Sou criança de novo e tenho medo. Eu sofro e dói demais. Desta vez eu peço abertamente: Tristeza por favor vá embora... Assim como o poeta implora também o faço. Você não combina comigo. Não posso ser seu pá. Me abandone como quem abandona a uma amante e juro que não terei ressentimentos.
Não aguento os dias em que você se faz minha sombra, não quero ser sua amiga. Vá embora e não volte nunca mais. Leve o que quiser. Você sabe que pode, sempre saqueia uma parte do meu coração e o leva consigo. Hoje ele já é tão pequenininho que se você voltar outra vez estarei perdida. Leve tudo, leve nada, mas vá embora. Só vá.

terça-feira, 5 de julho de 2011

O casamento

Eu poderia começar descrevendo como a igreja estava linda e como aquele clima de casamento me faz achar tudo mais brilhante. Falar sobre as flores e aquele cheiro de jasmim que ficava no ar. Poderia falar da cerimônia linda e na capacidade das pessoas se comprometerem de forma tão definitiva e irrestrita. Poderia falar nos vestidos bonitos e nos ternos, na idéia de solenidade que um evento como esse consegue gerar. Poderia falar em como os noivos estavam extraordinariamente felizes e como a noiva era a pessoa mais linda do mundo todo.
Falaria horas e horas em como foi mágico compartilhar um momento como aquele com tantas pessoas que eu amo. Poderia falar como foi realmente divertido, lindo e perfeito. Passaria horas e horas falando em como torço para que eles sejam felizes de verdade e para todo o sempre. A minha torcida é para que o conto de fadas seja eterno.
Eu falaria ainda sobre como o clima fica amoroso em uma festa como esta. Diria sem medo que o ar fica empregnado de uma coisa doce da qual eu não sei o nome. Passaria dias e dias comentando sob a sensação de participar do rito de passagem de uma amiga querida.
Mas o que eu preciso mesmo dizer é que chorar neste casamento foi a coisa mais bonita que poderia ter me acontecido. A clara compreensão do significado disso me fez ver que as rejeições que tenho para com a instituição não refletem no que eu acredito sobre os sentimentos que são pressupostos para que ela exista. Depois de tantos anos analisando relacionamentos e tentanto identificar o que é real, perceber que tenho a capacidade de acreditar no amor de novo é lindo.
A mágica da noite para mim foi me descobrir clichê e sentimental como toda garota do mundo. Me emocionar com o “sim” não pareceu mais tão errado. E meu bem, isso é incrível. Perceber que posso acreditar nos pontos positivos em detrimento dos pontos negativos me faz entender que hoje amadureço sem deixar de lado minhas crenças.
Sim, eu continuo não me achando capaz de honrar promessas. Sim eu continuo achando que entrar em uma igreja e prometer amor pela eternidade não combina comigo. Mas de agora em diante eu tentarei dar os parabéns a todos que têm a coragem suficiente de prometer o que não consigo e enxergar um caminho para o qual meus olhos continuam vendados.
Então hoje dou o braço a torcer. Adoro a mágica dos casamentos. Adoro a sensação de segurança que isso proporciona. Adoro a idéia do companheirismo que ele pode ser. Adoro o fato de que famílias de comercial de margarina podem existir. Adoro a idéia de um amor simples no dia a dia. É, a partir de hoje eu adoro casamentos.

P.S:A flor continua guardada na minha casa...

A ponte

Quando se tem nas mãos o que mais se quer. Quando todos os sonhos já foram realizados. Quando não há mais nenhuma moeda a ser jogada na fonte dos desejos é maravilhoso. Quando a segurança lhe faz acreditar que o mundo é seu. Quando o próximo passo já foi arquitetado e você cruza uma ponte segura. Quando você dorme a noite com a satisfação de uma vida ganha é esplendoroso.
Quando você abre as mãos por um descuido e tudo vai embora. Quando você acorda e se depara com a realidade. Quando a fonte dos desejos seca e não se pode mais fazer pedidos. Quando a insegurança avança como um monstro na calada da noite. Quando a ponte segura é bombardeada e você cai no meio do caminho. Quando você não dorme mais de preocupação. Meu bem, isso é a vida normal.
Quando temos tudo não damos o devido valor, quando perdemos tudo lutamos por cada conquista. Decidir entre abrir mão da felicidade por problemas menores ou ser feliz deixando de lado o que de certo não deveria lhe aflingir é fácil. O difícil é quando a felicidade resolve não caminhar mais de mãos dadas com você. Quando a felicidade lhe fecha as portas e você fica a a bater do lado de fora, isso sim é maravilhoso. É a sua vez de provar o quão disposta está para reconstruir a ponte que você mesma bombardeou.
Sendo eu uma expert em construções e reconstruções. Sendo eu mais empreiteira que qualquer outra coisa, me disponho a forcener o material, mas, meu bem, a mão de obra é toda sua. Desta vez serei apenas espectadora de uma novela da qual não pertenço ao elenco. Desta vez eu darei palpites, farei bolões de apostas e serei torcedora. Cabe a você terminar a construção da ponte e escrever o capítulo final!

domingo, 3 de julho de 2011

O carro



O carro. Não é um carro comum. Sim ele tem todos os apetrechos de um carro comum. Bancos. Volante. Som e principalmente o cinto de segurança. Mas este carro em específico tem memória. Juro que tem. Se o carro tivesse ouvidos ouviria lamúruas sobre amores, dúvidas sobre família, conselhos sobre a vida em geral, planos para o futuro profissional e sempre, sempre mesmo ouviria um “babaca” para os motoristas de ônibus.
Neste carro cabe muita gente e cada pessoa que entra nele traz também seus problemas. Se o carro fosse contabilizar o peso dos problemas não andaria nunca. Funcionaria mais como divã do que como qualquer outra coisa. Todo mundo que já sentou naquele banco de carona já teve seus sentimentos desvendados. O que as vezes pode causar problemas. Essa parte em específico não pertence ao carro mas ao dono dele. Esse dono sabe ler expressões faciais, mensagens subtendidas, olhares, levantar de sobrancelhas, choros desesperados mas o pior de tudo, ele sabe ler nossos silêncios.
Se o carro pudesse falar certamente diria que façam o favor de beber menos. “Quando você bebe só chora meu bem”. E você com pena do carro acataria o conselho. Se ele falasse, diria ainda para você parar de complicar a vida e testar as possibilidades sem medo. Você provavelmente acataria com medo que isso fosse uma praga ou maldição.
O carro é sempre um amigo. A gente pode se maquiar feliz com aquele espelho maravilhoso e aquela luz ótima. Mas o melhor de tudo é que ele não repara se você de vez de quando volta para casa aos prantos ou só chorando baixinho. Muito pelo contrário, ele faz questão de aumentar o volume do som ao máximo para que ninguém mais ouça seus soluços. Isso sim é que é companheirismo.
O carro já presenciou ainda alegrias extravasadas e promessas apaixonadas de toda ordem. Embora muitas das promessas tenham sido quebradas depois, ele continua acreditando em tudo que se fala. Acredita genuinamente que todo mundo pode se regenerar.
Ele não liga se você aparece para ele de vestido longo ou de chinelinho. Não liga se você está na mais perfeita paz ou no auge do desequilíbiro, não liga para confissões nem crises de choro. O carro não se importa. Ele apenas quer participar como todo bom amigo.
Porém um dia desses fizemos um teste: trocamos de carro. No início eu me sentí estranha. O hábito queria me fazer acreditar que ao trocar de carro as coisas mudariam. Engano. O carro era outro, mas as pessoas eram as mesmas. Isso me fez crer que talvez a magia estivesse não no carro mas em quem anda nele. Trocamos de carro mais uma vez, voltamos para o antigo... É pode ser que a magia esteja nos passageiros, mas esse carro tem alguma coisa especial e meu bem, quando o mistério é grande demais a gente não pode pedir uma explicação!
Por isso faço um apelo a todo mundo que já teve um amigo desse tipo: não troque nem venda seu amigo. Se não for pela amizade que seja pelo medo de ter seus segredos espalhados ao vento!

terça-feira, 28 de junho de 2011

Merecimento

(...)

Passou o dia pensativa juntando coragem na saliva até encorpar a voz.
Aproveitou o ápice da sua agonia e, num impulso, disse tudo numa sensação só:
“A partir de hoje, não sou mais sua mulher, decidi gostar de outro”.
No início ele riu da ousadia, mas o silêncio que ela fez em seguida preencheu de sinceridade aquela novidade.
“Você ficou maluca, de onde tirou isso?”
“ É que você nunca gostou de mim no grosso mesmo do sentimento...sempre foi essa coisinha aguada e mal-cuidada, água parada esperando doenças...”
“ Mas ninguém decide que vai gostar de outro de repente e, simplesmente, começa a gostar!”
“ Ah, mas eu decidi...Ele vai realizar um sonho que tenho comigo desde menina:
ele disse que vai gostar de mim bem do jeitinho que eu gosto de você.
A diferença, é que eu sei merecer essas coisas...”

Dias e dias

Tem dias que sinto uma saudade incrível de você. Uma saudade dolorosa e profunda que chega do nada e se apodera de mim como uma doença que vai se enraizando. Certo dia eu até sentí o cheiro da sua loção pós-barba entrar pela janela do quarto. Pode ter sido só porque era hora de dormir e isso me lembra você. Das minhas memórias mais antigas tenho você me cobrindo e contando uma história. Essas coisas são difíceis de esquecer sabe?
Tem dias que sinto uma raiva incrível de você. Uma raiva poderosa que me cega os olhos e me faz querer te dizer umas barbaridades. Um dia desses eu até percebí que minhas mãos tremiam de tanta raiva de você. Pode ter sido porque sou descontrolada não? Mas que eu me lembre você me ensinou a não mentir.
Tem dias que sinto uma tristeza incrível por você. Veja bem, por você. Você nunca mais terá minha admiração ou o meu amor do modo como tinha antes. Irrestrito, inegociável, desmedido, inquestionável. Nunca mais o defenderei de qualquer ofensa. Nunca mais acreditarei piamente em você. É triste que você perca o maior amor e a maior certeza que já possuiu.
Tem dias que me sinto magoada com você. Por não particpar mais da minha vida. Por não saber que participo de movimentos políticos inspirada em suas participações anteriores. Por não saber que já tive clientes e me parecia de verdade com uma advogada. Por não saber que aprendi a resolver problemas com lógica e rapidamente. Por não saber que aprendí a agir sob pressão. Você nem sabe se ando namorando firme ou se ando só enrrolando como você mesmo dizia. Você não sabe.
Tem dias que me sinto decepcionada com nós dois. Das tantas vezes que tentei reatar os laços um de nós agiu errado. Foi imaturo da nossa parte brigar tão feio? Eu não sei. Só sei que hoje olhando o passando me vejo não podendo julgar tanto. Eu também já agi por impulssos. Eu também já escondí segredos.
Tem dias que não me lembro de você. Esses dias são raros. Eu realmente não lembro, mas tenho a sensação que estou esquecendo uma coisa muito importante, como um fogão ligado, um chuveiro aberto ou o carro ligado. Nestes dias eu sinto um vazio que não sei explicar e só é explicado quando lembro de você em outro dia.
Tem dias que eu lembro de você. Nestes dias eu choro. Eu lembro de você construindo minha casinha de boneca, do jeito que eu queria. Lembro de você me deixar tomar banho de praia vestida. Lembro de você nas minhas apresentações da escola. Lembro de você me ensinando a rezar. Lembro de você penteando meus cabelos. Lembro de você me levando para comprar roupas. Lembro de você me levando para comprar quantos livros eu quisesse. Lembro de você me levando ao cinema. Lembro de você me perguntando sobre namorados. Eu lembro.
Tem dias que eu só sinto amor por você. E Pai, nestes dias eu sofro mais. Porque só amar você me faz pensar que é o bastante, mas no fim do dia quando mesmo amando não o tenho mais ao meu lado ou não consigo perdoá-lo aí sim, eu me sinto incapaz de ser gente. Mesmo assim eu agradeço por amá-lo, porque chegará uma dia, e você também sabe que chegará, que eu não sentirei saudade, raiva, tristeza, mágoa, decepção, vazio, lembranças, amor. Chegará o dia em que só haverá indiferença. Quando este dia chegar nada mais irá adiantar. E você sabe disso. É uma pena que termine assim e eu sinto muito, deculpe por isso mas não tenho como evitar!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Ciranda

Essa cirandinha que eu resolví dançar com você está ficando cada dia mais divertida. Enquanto eu tento me sentar no banco e me recuso a participar da brincadeira você me puxa pela mão e quer dançar a noite inteira. Se eu me escondo em minha casa ou brinco de ciranda com outras pessoas você me puxa de novo pela mão e não me deixa mais. Você que apareceu agora e nem sabe das tantas outras cirandas. Você que só me traz boas risadas e que eu já gosto tanto de olhar.
A ciranda gira rápida e na troca dos pares você não me deixa trocar de par. E não deixe mesmo que o acaso é perigoso e a incerteza não me seduz. Agora que minha mão procura a sua e eu já conheço os seus sinais essa ciranda pode entrar noite adentro e eu nem me importo mais. Garotinha boba que já foi deixada de fora da brincadeira agora é Rainha que excluiu quem não lhe agrada. O Rei em sua bondade convida todo mundo, esquecendo que a Rainha é temperamental.
Então eu digo: Pode convidar a corte inteira meu Rei mas se o Bobo da Corte não arrancar um sorriso meu não vá estranhar. É que a ciranda é mais importante e eu gosto mesmo é de dançar, não estranhe também se no meio da roda eu lhe largar, é que a ciranda exige que de vez em quando a gente troque de par!

P.S.: Eu já disse uma vez e me sinto obrigada a repetir, a ciranda cirandinha rege a vida das pessoas!
P.S.2: Esta é a terceira ciranda que escrevo, mas prevejo muitas outras.

domingo, 26 de junho de 2011

Para Você

Eu tenho um castelo. É um daqueles grandes castelos de pedra parecidos com os castelos bonitos dos campos da Irlanda. Meu castelo de pedras é grande, bonito e seguro. Além do castelo existe uma muralha que o separa do mundo externo. Entre a muralha e o castelo existe o jardim mais lindo que o mundo já viu. O jardim também é meu. Este castelo, este jardim, esta muralha são os meus tesouros. A minha fortaleza. São uma amizade.
Ela foi construída sem que fosse percebida, dia a dia, minuto a minuto nós depositamos pedrinhas que amontoadas foram formando paredes, e pouco a pouco construiram o castelo mais lindo que já existiu. Um dia eu depositei uma pedrinha, no outro você depositou outra pedrinha. A cada risada, a cada palavra dita, a cada olhar de cumplicidade, a cada felicidade, a cada conquista, a cada tristeza, a cada lágrima, a cada consolo e a cada preocupação foram depositadas pedras.
Um dia depositamos rochas grandes de afinidade que formaram o alicerce do nosso castelo, em outro pedrinhas para nossas muitas risadas. Foi uma construção realmente fácil, parece mais que temos alma de empreiteiros, nós nem percebemos e em um belo dia lá estava aquela obra espetacular construída por rochas, cascalhos e pedrinhas. Nenhum engenheiro ou arquiteto fariam um castelo tão lindo como dois advogados.
Então decidimos decorar o castelo, e pouco a pouco fomos colocando nossos relicários, precisávamos de relicários em comum pois o castelo não era meu, o castelo não era seu, era nosso. Então colocamos nosso amor pelos amigos em comum. Na verdade colocamos nosso amor por todo e qualquer amigo, todos seriam bem vindos. Colocamos nossa fé na mudança. Colocamos nossa fé em um partido. Nosso desejo de justiça. Nossa revolta contra injustiças. Nosso sonho de um mundo melhor. Colocamos nossos sonhos. Nossa música para embalar as noites. Nossa alegria ao ouvir nosso samba, nosso chorinho, nossa bossa e porque não nossos Beatles? Colocamos tudo o que realmente nos importava. E no fim das contas uma decoração que podia ter ficado caótica ficou realmente linda, ficou chic sabe? E você sabe que adoro coisas chics!
Outro dia qualquer nosso jardim foi plantado, dia qualquer não. O jardim começou a ser plantado por você em uma segunda-feira, mas eu só soube quando acordei no outro dia. Eu acordei e ví um jardim lindo. Eu te liguei para brigar por ter começado sem mim, mas te liguei mais para agradecer por ter começado. Nós fomos plantando esse jardim todos os dias e em uma sexta-feira foi decidido que cabia a mim regá-lo. Eu o reguei com minhas lágrimas e foram tantas e tantas, tão sofridas e dolorosas que como resultado o jardim ficou lindo e muito florido. Lágrimas de amor fazem as flores ficarem mais bonitas. Nenhum jardineiro faria um jardim tão bonito como dois advogados.
Sem que fosse percebido nós construímos a muralha. Não me lembro de ter depositado nenhuma pedra nela, aposto que você também não lembra de ter colocado aquela porta de aço. Não lembro de ter plantado os canteiros de flores ao pé da muralha, nem muito menos como aquele pé de maracujá foi ficar tão bonito crescendo muralha acima. Eu realmente não me lembro.
Só depois eu percebi que bem melhor que a construção do castelo ou ter plantado o jardim foi a construção da muralha. A muralha é toda a confiança e fé que temos um no outro. É toda a certeza que podemos contar e confiar plenamente um no outro. A muralha é simplesmente a certeza. Sem parecer piegas e sem parecer clichê a muralha é saber que tenho um amigo que me ama ao ponto de ficar feliz pela minha felicidade e triste pela minha tristeza. Que está comigo nos lugares legais e se diverte comigo em qualquer lugar, sofisticado ou no meio de uma rua, mas que segura minha mão e cuida de mim quando estou realmente triste. Que me adimira sem que eu mereça e que acredita em mim quando nem eu mesma acredito. A muralha é a certeza que posso ficar a vontade e ser eu mesma, que não preciso ser ninguém além de mim. Com meus muitos defeitos e minhas qualidades, mesmo assim serei amada. Meu bem, isso é tudo para uma pessoa sabe?
A muralha não é a escolha de uma amizade, é o céu, Gaia e o Universo querendo que essa amizade exista. Não é um amizade, é uma irmandade, é uma família. É um porto seguro para onde se corre quando se tem medo, para onde se corre quando procuramos abrigo, quando queremos um conselho, quando queremos ser ouvidos ou quando queremos só passar o tempo conversando bobagens. Na verdade não existem bobagens entre amigos, tudo é tesouro, tudo é relicário, tudo é quimera.
Você é o meu presente, meu amigo, meu irmão, minha quimera, sonho ou realidade, besta ou fera. Só quimera.
06/05/11

P.S.: A muralha continua crescendo infinitamente. O jardim continua sendo regado e só fica bonito quando regado com lágrimas. O castelo continua sendo decorado e os moradores não se importam se você quiser participar da decoração!

sábado, 18 de junho de 2011

Encontro



O primeiro encontro sempre tem um gostinho doce, uma pitada de nervosismo e aquelas borboletas voando no estômago. Tem aquele medo que o outro não nos ache bonita o suficiente, bacana o suficiente e inteligente o suficiente. Tem o dilema do que vestir, você quer estar bonita sem parecer que se preocupou muito com isso. E claro que se vocês forem sair para jantar você vai acabar comendo quase nada. Se forem beber, vai beber quase nada. Em determinado momento da noite você vai olhar para ele e tentar se imaginar daqui a alguns anos ao seu lado. Se conseguir isso, vai aceitar um segundo encontro.
Eu nem nervosa estava, estava mesmo era atrasada quando você ligou para avisar que estava chegando. Em uma semana que somados todos os dias eu tinha dormido 8 horas e minhas olheiras eram tão profundas ficar pelo menos bonitinha seria um grande feito. Mas, eu só tive tempo de tomar banho, vestir o primeiro vestidinho que ví, fazer uma maquiagem que escondesse pelo menos parte das olheiras e você já estava me esperando na porta de casa. A minha maior expectativa era que o jantar fosse gostoso porque eu realmente tinha fome.
Quando eu digo fome é fome mesmo, não sou o tipo de garota que se intimida na hora do jantar. Eu estava exausta e faminta. E veja só, quando o saio na porta você me recebe como quem recebe uma rainha e abre a porta do carro para mim. Minha inércia e comodismo não foram suficientes para não me fazer enxergar isso, com esse simples gesto você já ganhou minha atenção. No carro a música que tocava era uma das minhas preferidas do Los Hermanos, você ganhou pontos.
Decidir o restaurante foi divertido e os seus gestos enfáticos explicando as coisas me fizeram rir. Ser conduzida até a mesa foi confortável e quando digo confortável não quer dizer cômodo, mas que me senti a vontade com sua mão na minha. Eu tenho uma teoria que muito mais que o primeiro beijo o encaixe de mãos têm que ser de imediato. Da última vez eu não tinha segurado as suas.
Beber vinho com você foi ótimo, a gente parecia tão adultos. Mas a melhor parte foi me sentir mais que paquerada, me sentir admirada fez com que você me despertasse um interesse genuíno e meu bem eu sou de gêmeos então isso é um feito histórico. Eu prestei atenção a cada palavra que você falava, a cada gesto que eu já estava aprendendo a gostar, a música que tocava, ao jeito que você mexia no cabelo, o modo como você inclinava a cabeça para me olhar. Eu prestei atenção.
A noite passou rápida entre uma risada e outra e todo e qualquer assunto foi discutido, de política a desenho animado e você me fez rir de verdade, aquela minha risada gostosa e irrestrita que pouca gente conhece. E no fim da noite quando minha mão e a sua se procuraram ao mesmo tempo eu achei poético. Percebí que foi bom olhar tanto para você, tentei gravar suas expressões faciais, tentei desvendar seu levantar de sobrancelhas. No fim de tudo eu queria saber tudo sobre você ou não saber nada, mas queria ficar perto.
Não era a hora de se despedir, então mais drinks foram bebidos num bar pequeno e escuro. Lugar estratégico para quem está enamorado. Mais risadas foram dadas, rir com você parece que será nosso maior relicário. Despida de expectativas e em paz voltei para casa. Feliz comigo por me sentir capaz de ter encontros tão singelos e leves me fez lembrar de você. E depois de meses complicados, semanas de provas sem dormir e dias estressantes, dormir uma noite inteira como um anjo e acordar com uma mensagem de bom dia me fez mais bonita.
Bom dia para você também!

"De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho"

domingo, 12 de junho de 2011

Feliz Aniversário

"Minha querida, amada e linda Marilinha, parabéns!
Hoje é o seu aniversário e todos os anos escrevo uma cartinha para você. Sei que você já sabe qual é o conteúdo, mas como bem disse na cartinha que me escreveu, sei também que você espera receber. Esse ano a responsabilidade é maior porque não sei se conseguirei escrever tão bem quanto você. Tentarei explicar porque as cartas são semelhantes é simples, elas expressam o imenso amor que sinto por você e o meu desejo que seja feliz. Falando em felicidade gostaria de refletir sobre o que é mesmo esse sentimento tão abstrato que ninguém sabe definir ou apontar os caminhos corretos para conseguir alcançar. Na verdade a felicidade para alguns é muito diferente do que significa para outros. Eu por exemplo sou muito feliz porque aprendi que sou responsável pela minha felicidade e que ela está dentro de mim. Aprendi que para ser feliz é preciso em primeiro lugar ter Deus no coração. Esse ser supremo é o escudo que protege da tristeza e que promove a paz no coração. Em segundo lugar é preciso ter duas filhas muito especiais como as que ele me deu e que são o sentido e a razão da minha vida e depois é só caminhar com retidão e amor. Os bens materiais não podem ser a razão da nossa exixtência. Devemos lutar por uma sobrevivência digna, qualidade de vida, e conforto porque afinal Deus não deseja que seus filhos padeçam sobre a terra. Porém a ambição desenfreada leva a abismos.
Nosso tempo na terra é pequeno para deixarmos um grande legado, mas o importante é que o legado deixado seja marcado por sabedoria, bondade, trabalho, inteligência, conhecimento, contribuições para uma sociedade melhor e sobretudo amor. A família é a instituição mais importante que conheço e a união deve ser fortalecida em meio a desavenças próprias da fraqueza do ser humano. É preciso lapidar o espírito, purificar a alma e caminhar passo a passo para o aperfeiçoamento que leva a verdadeira felicidade. Doravante seu caminho é cada vez mais independente, porém os valores construídos na base da nossa família jamais poderão ser esquecidos. Eles são a marca mais forte do seu caráter mesmo que você não se dê conta disso. Somos rocha e alicerce uma da outra e formamos nessa fase das nossas vidas uma corrente de apenas três elos (eu, você e sua irmã) mas essa corrente é tão forte que nenhuma tempestade poderá destruir, pois foi solidificada pela fé, confiança, amor e muita luta por uma vida de paz e dignidade.
Não temo pelo seu futuro porque vejo muita luz no seu caminho... Lembre-se que você é forte, inteligente, bonita e privilegiada. Seja boa, não deisita dos seus sonhos, desprenda-se do orgulho soberbo, faça o exercício do perdão e peça a Deus piedade para aqueles que ferem seu coração e colocam pedras no seu caminho. Porém não pare diante das pedras, retire-as e não jogue em ninguém, apenas siga em frente porque a lei do retorno é verdadeira e somente quem semeia flores poderá colhê-las.
A humanidade é cheia de defeitos e as vezes pensamos que é melhor desistir do ser humano, mas eu lhe afirmo, minha querida, que é preciso teimar em ajudar as pessoas a se tornarem melhores. Essa é uma tarefa para pessoas inteligentes e corações corajosos. Poderia continuar discorrendo por muitas páginas sobre coisas importantes que uma mãe deve dizer a uma filha, mas sei que você já sabe o suficiente para fazer boas escolhas e prefiro concluir dizendo que a vida é muito bela, boa, que vale a pena viver, sorrir, amar e até chorar algumas vezes. Sua avó Luzia dizia que chorar fortalece os pulmões.
Lembre-se: Não há caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.
Eu te amo muito... Estarei sempre com você.
Feliz Aniversário!
Sua Mãe"
26/05/11

P.S.: É pessoal mas tão bonito que não posso guardar só pra mim!

Adeus

Acorda. O sol entra pela janela do quarto e ela tenta se orientar. Onde está? Olha para o lado e vê o relógio-despertador já tão familiar. Se vira e vê ele. Dormindo profundamente, uma mão em baixo do rosto o outro braço por cima da cintura dela. Acha a imagem singela. Tenta sair da cama sem lhe acordar. Ainda são 6:47 de um sábado pela manhã. É dia de dormir até tarde.
Sai da cama tentando se esgueirar para que ele não desperte, anda nas pontas dos pés até o banheiro. Se olha no espelho. Não se reconhece mais, seu cabelo está desgrenhado, seus olhos vermelhos e inchados. Chorou na noite anteiror. Tira o pijama e entra no box para tomar banho. A água molha o seu rosto e ela fecha os olhos para lembrar da noite anteiror, o que vem dando errado? Deixa a água percorrer o seu corpo como se lhe fizesse uma massagem.
Pega seu shampoo, ele está quase no final, parece que pressente o que irá acontecer. Lava seus cabelos e sente o cheiro tão familiar de frutas vermelhas. O cheiro que ele gosta tanto. Passa condicionador nos cabelos. Começa a penteá-los com os dedos, seus cabelos tão sedosos colam molhados em suas costas. Estão grandes, não seria melhor cortá-los na altura do queixo? Talvez daqui a alguns anos.
O sol entra pela janela do banheiro, o céu está lindo. Se pega rindo pensando que se ele tivesse vizinhos eles poderiam vê-la nua agora. Passa sabonete em seu corpo, esse cheiro familiar dele irá acompanhá-la? Se vê no reflexo do boxe. Seu corpo nú tão magro e branco. Seus cabelos cobrindo os seios. A curva da sua cintura. Ele não a verá mais.
Sai do boxe e se seca. Penteia os cabelos e passa o perfume dele em seus pulsos, se sente roubando um pouquinho dele. Se sente levando ele. Levará seu perfume consigo e lembrará deste dia quando ele começar a odiá-la. Vai para o quarto nas pontas dos pés. Seu sono é tão pesado quanto parece? Entra no closet e pega uma calça jeans muito velha, não tem nenhuma blusa, por isso pega uma camisa dele. Pega a camisa preferida dele. Desculpa-se por isso também. Se veste, calça seus sapatos. Precisa lhe dar o adeus.
Para ao seu lado na cama, senta. Tem vontade de ficar. Tem vontade de ir embora. O que foi que aconteceu com eles? Alisa seus cabelos. Beija seu rosto. Sente sua barba crescendo. Ele nem acorda. Resmunga alguma coisa no sono. Beija seus lábios quentes, mas para ele é como se fosse apenas um vento forte passando. Ele não acorda.
Sai do quarto, olha ele da porta, ele não verá nem mesmo ela indo embora, será como se eles dois nunca tivessem existido. Pega sua bolsa e suas chaves na sala. Sente que é a última vez que fará este ritual. Antes de ir embora deixa seu último bilhete de amor.
“Est-ce que tu sais à quel point je t’aime?”
14/06/08

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Equilíbrio

Equilíbrio. Equilíbrio emocional, espiritual e profissional. A luta constante para alcançar um estágio em que os problemas grandes e pequenos sejam irrelevantes, a luta para que uma dor ou um amor não consigam desestabilizar o controle emocional adquirido ao longo de anos de treinamento, a luta para que o plano de vida acadêmica e profissional seja cumprido.
Traçar um modo de vida em que o equilíbrio seja o maestro é fácil. Difícil é viver como um soldado que obedece a seu general, é viver com os nervos de aço, é viver no limiar. Para alcançar o estágio supremo do equilíbrio é necessário um esforço desumano.
Desumano. A friza de quem não sente, de quem não pensa e quem só segue. E quem quer viver assim? No limiar entre a sanidade e a loucura, entre o certo e o errado, entre o querer e o não poder. Porém há diversas formas de viver o equilíbrio como gente, e meu bem, quando se descobre que pode ser divertido viver no equilíbrio a vida ganha outro sabor.
Um mestre que tive costumava dizer que se vive em cima de uma linha, de um lado é a morte e do outro é a morte. Imagine a emoção de ser equilibrista e andar nessa linha que é a vida até cair em um dos lados?
Eu digo que a vida é andar na corda bamba, mas na verdade não é uma corda, é arame farpado... E sabe o que acontece? Você tem que andar nas postas dos pés! E o que é andar nas pontas dos pés para quem é bailarina?

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Marcas

Marcas. O que são elas? As marcas que meu pai fazia na parede para medir meu crescimento. As marcas que eu fazia no caderno para contabilizar quantas vezes tinha ganhado no bafo dos meus amigos. As marcas nos meus pés das sapatilhas de ballet. As marcas em minhas mãos depois de escalar a árvore da minha casa. As marcas nos meus joelhos das quedas de quando estava aprendendo a andar de patins. As marcas no meu queixo de uma queda quando corria no tica-tica.
Marcas no meu diário de quantas vezes o garoto que eu gostava sorriu para mim. As marcas no meu rosto colorido de vermelho depois do primeiro beijo. As marcas nos meus cabelos depois de soltos após aquela apresentação. As marcas na minha casa depois que deixamos o meu pai. As marcas no rosto da minha mãe depois que tudo mudou. As marcas em mim quando comecei a crescer de verdade.
Marcas na minha carteira depois daquela viagem que me faliu. Marcas nas minhas fotografias depois que todos os meus amigos compartilharam minhas fotos entre eles. Marcas na minha memória do tão famoso corredor da biblioteca. Marcas de um beijo roubado na quadra de futebol. Marcas das marcas no meu rosto depois de acordar ao seu lado. Marcas das lágrimas derramadas pelo copinho descartável. Marcas dos risos nas tardes em que ficava tomando sorvete na escola.
Marcas de quando comecei a me preparar para a vida adulta. Marcas das horas sem dormir estudando para o vestibular. Marcas das lágrimas derramadas pelo estresse. Marcas da vergonha de ser cobaia na aula do cursinho de química. Marcas do carinho dos professores que eu adimirava. Marcas do dia do resultado.
Marcas do início da vida acadêmica. Marcas do reencontro com os amigos. Marcas dos namoros conturbados que acabaram mal. Marcas das saudades que se sente de uma vida descomplicada. Marcas de todos os verões ao sol. Marcas das doenças. Marcas das curas. Marcas de festas infindáveis. Marcas de uma noite de tequilas. Marcas de muitos churrascos. Marcas da graminha ao luar.
Marcas dos muitos amigos que tive e tenho. Marcas de uma vida quem vem sendo bonita. Marcas das mágoas esquecidas. Marcas das pedras no caminho. Marcas depois de plantar as flores. Marcas das lágrimas que já passaram por meu rosto. Marcas dos risos que já dei. Marcas do melhor abraço do mundo. Marcas de uma vida que só começa.
Marcas, porque apagá-las? Se são minha história, minha base, meu relicário. Marcas de tudo que é belo, não necessáriamente feliz, mas belo mesmo assim. Como viver sem um passado. O passado é pormenorizado por alguns, relativizado por outros e desvalorizado pela maioria. Meu passado é um tesouro. É tudo que sou e não sei ser sem saber quem fui. É tudo que preciso para seguir em frente, sem ele eu seria um balão solto voando no ar para estourar nas nuvens e cair ao chão, e o chão seria um precipício sem fim. Devo tudo que sou e quero ser ao meu passado e sim, as minhas marcas. Só minhas.