quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Estelionatário do Amor

Estelionato
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento.

No código penal brasileiro há a tipificação do crime de estelionato. De modo geral estelionato é enganar, mentir, ludibriar. Pelo Código Penal estelionato é usado geralmente para aferir vantagens materiais. Pelo Código Penal. Pela minha visão há um tipo único de estelionatário que faz muito mais que nos tirar o patrimônio, ele nos engana, rouba nossos dias, nossos sentimentos, nossos beijos, nossas crenças, ele rouba nossas esperanças no amor. Esse tipo de estelionatário não raro é um ator exímio, nos ludibria com todo tipo de falácia e poemas, nos faz acreditar que somos as únicas em seu coração, quando na verdade o que eles têm no lugar do coração é uma máquina que contabiliza quantas garotas já foram enganadas. O estelionatário do amor não tem cara de bandido, muito pelo contrário, ele tem cara do mocinho que salva a garota indefesa ao longo do filme. Chega de mansinho com uma fala doce, nos presenteia com poemas, nos arranca suspiros e beijos, cria expectativas em torno de sentimentos que só existem de um lado da história. Ele nos faz promessas, planeja conosco dias de sol e lua, eles marcam encontros, eles combinam sobre o futuro. O estelionatário do amor suga de nós todos os bons sentimentos, um a um eles lhe são direcionados, por fim depois de saciados como vampiros, eles nos abandonam. Nos vemos sozinhas chorando em um quarto escuro, em uma manhã de sábado, por um mês inteiro. Andamos pelas ruas como zumbis, vazias de sentimentos, esperanças, sem forças. Nos apegamos as lágrimas que caem em enxurrada e são uma a uma as dores de um parto, até o abençoado dia em que nos damos conta que fomos vítimas de uma fraude. Sim, induzidas a erro, acreditamos que o fulano mediante todo tipo de mentiras não roubou só nosso coração, roubou nossos sonhos, nosso orgulho e por fim o nosso restinho de dignidade. É como um tapa no rosto a percepção de que fomos vítima de uma fraude tão bem elaborada que ninguém percebeu, e ser vítima causa vergonha, revolta e no fim das contas, graças Deus, causa uma vontade imensa de reagir. Vestimos nossa melhor roupa, nosso sapato mais sexy, nossa maquiagem potente, arrumamos nosso cabelo a lá Bündchen, convidamos nossas melhores amigas e vamos badalar. Não importa o quanto ainda estejamos sofrendo, a resolução de que esse sentimento tem que ser arrancado a fórceps é a mais sensata e o dia-a-dia acaba por fazer desse sentimento ódio, nojo e por fim indiferença. O único problema é que o estelionatário do amor vai voltar a agir, novas vítimas sempre estão por aí, vulneráveis, disponíveis, não por serem ingênuas ou burras mas por terem uma coisa dentro de si que não pode ser arrancada por nenhum bandido: Fé. O estelionatário age baseado justamente nisso, na fé que possuímos, como todo grande babaca, ele usa nosso melhor lado contra nós mesmas e sabe o que mais? Prefiro que use mesmo. Só podemos nos tornar mulheres de verdade depois que passamos pelas mãos de uma grande e indiscutível babaca estelionatário do amor (perceba como fica melhor com o belíssimo adjetivo), depois desta experiência aprendemos milhares de coisas. Aprendemos que somos lindas, independente do nosso peso. Aprendemos que somos inteligentes, independente do nosso IRA, pois inteligência emocional é bem mais importante. Aprendemos que somos ricas, independente da nossa conta bancária, pois temos os melhores amigos que existem. Aprendemos que nunca, absolutamente nunca devemos criar expectativas em relação a outra pessoa, pois nossa felicidade só depende de nós. Finalmente aprendemos o mais importante: O melhor da vida é aprender a se amar, sendo gostosas pra caramba isso não é difícil!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Vai passar

Sinto muito. Por absolutamente tudo. Quisera eu poder trocar de lugar com você e em seu lugar chorar todas as lágrimas que fazem seu coração doer, travar todas as guerras que fazem seu sangue pulsar, dizer todas as barbaridades que fazem sua alma pesar. Colocaria você no colo como se você fosse o meu bebê, faria o que você tantas vezes fez comigo, abraçaria, enxugaria as lágrimas e contaria uma piada bem boba. Levaria você ao cinema e compraria todas as coisas que você quisesse. Eu faria qualquer coisa para desenhar um sorriso em seu rosto e tirar toda essa tristeza de dentro de você, eu faria. Mas eu não posso. Além do mais se eu fosse chorar todas as suas lágrimas você jamais saberia como é bom chorar de felicidade, se eu fosse travar todas as suas batalhas você jamais daria tanto valor a paz, se eu fosse falar suas barbaridades você jamais saberia como é descarregar os sentimentos e como isso nos faz leves. Meu bem, se eu arrancasse a tristeza do seu coração você jamais saberia quão rara e bela é a felicidade e como ela pode ser fugaz. Vai passar, prometo.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Homens de Lata

Na história do Mágico de Oz a menininha Dorothy em meio a um tornado no quintal da sua fazenda no Kansas é levada a uma terra distante povoada por magos, bruxas más, Espantalhos falantes, Homens de Lata, Leões que falam. Assim começa sua jornada tentando voltar para casa ao lado do seu cachorrinho Totó e dos novos amigos. Literatos dizem que é um conto de fadas pós-moderno, alguns críticos acreditam que a história foi escrita usando personagens e partidos do cenário político norte-americano da época, o cinema imortalizou a história aliando a ela umas das músicas mais bonitas já compostas. A história em sí dá margem a várias interpretações, pode ser um sonho psicodélico, uma fábula da vida moderna, um resgatar de valores já esquecidos. Em cada ponto e cada personagem há uma minúcia que pode ser explorada de diversas formas mas, o ponto que me prende e faz querer reler ou rever tantas vezes a história do Mágico de Oz é o Homem de Lata.
Dorothy encontra o Homem de Lata enquanto procura pelo Mágico de Oz para que este lhe mande de volta para casa. O Homem de Lata conta que quando era homem de verdade se apaixonou por uma garota do seu povoado que cuidava de uma velhinha, ao saber dessa paixão e com medo de ficar só a velhinha pede a bruxa má que dê um fim a esse sentimento. A bruxa má prontamente começa a causar pequenos acidentes ao homem, um dia lhe corta as mãos, no outro as pernas e assim por diante, o homem então substitui seus membros por lata, mas nada o faz desistir da garota. Por fim, depois de vê-lo todo reconstituído em lata a bruxa arranca seu coração, levando então embora o amor que o homem sentia pela garota.
Enquanto Dorothy caminha para a Cidade das Esmeraldas para pedir ao grande Mágico de Oz que a mande de volta para casa, o Homem de Lata caminha para que o mago lhe dê de novo um coração. Hora questionado sobre o porque de não querer ter um cérebro (já que sua cabeça também ficou oca e agora é de lata) e sim um coração o Homem responde que já teve os dois e prefere ter um coração para poder amar de novo.
Muitas aventuras são vividas ao longo da história, os personagens são colocados a prova várias vezes e mesmo não tendo um coração o Homem de Lata age sempre baseado nos melhores sentimentos, ele age com amor. Cada personagem demonstra o poder que busca ao longo da história sem perceber, a própria Dorothy estava calçada o caminho todo com sapatinhos mágicos que poderiam levá-la para casa.
Então eu pergunto a você: Quantas vezes ao longo da sua vida você já foi Homem de Lata? Sem coração, mas com uma vontade incrível de sentir as coisas? Quantas vezes já foi Espantalho? Sem cérebro, mas com alternativas lógicas para todos os problemas? Quantas vezes já foi o Leão covarde? Sem coragem, mas com uma capacidade gigantesca de defender os amigos?
Homens de Lata são mais comuns do que pensamos, estão por aí negando sentimentos porque estão sempre se preparando para sentí-los. Se dizendo vazios e durões, mas ajudando velhinhas a atravessar as ruas ou comprando bicicletas para menininas órfãs. Homens e Mulheres de Lata, chorando e enferrujando as armaduras de que tanto se orgulham. As armaduras que tanto protegem, percebe o simbolismo? Armaduras que ao mesmo tempo protegem e prendem, isso me lembra as muralhas. Eu tenho uma vontade incrível de perguntar a esses Homens e Mulheres de Lata se eles têm certeza que são vazios, se querem mesmo ir até a Cidade das Esmeraldas procurar o grande Oz para ganhar um coração. Sair pelo mundo dá trabalho e é perigoso, e tem mais, “não há nada melhor que o nosso lar”, mas que sei eu sobre essas coisas. Posso não saber nada, mas que eu tenho vontade de perguntar: "Sério? Sério mesmo coração?" Eu tenho.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Até breve, ballet!

Eu não sei me despedir. Sei dizer até logo, até amanhã, mas não adeus. Por isso eu digo até breve, já que das poucas coisas que eu sei sobre tudo é que a gente sempre pode voltar atrás. Queria lembrar o dia exato em que tivemos nosso primeiro contanto, não lembro, ou lembro pelo modo como me contam e as interpretações de outros olhos nessa hora podem ser válidas. Dizem que eu implorei para lhe conhecer depois que lhe ví na televisão, eu só falava sobre você e meus olhos brilhavam, eu dançava, pulava e ensaiava o que seriam anos de amor. Amor sim, misturado com uma pitada de paixão, mas no fundo aquele amor estável, seguro, desmedido, inquestionável, e acho eu, que muito recíproco. Como no início de todo amor, nossa vida era brincadeira, era leveza e beleza, com o passar dos anos aprofundou-se e virou renúncia, sofrimento, ganhos e perdas e ainda assim amor. Você moldou meu coração, minha alma e ainda meu corpo. Fez dele morada, jornada, objetivo, meio e fim, enquanto isso fiz de você válvula de escape, amante, amigo, companheiro, inimigo, objetivo, ambição, lisonja. Por você fui a lugares, conheci pessoas, me conheci, redescobri. Nos usamos mútuamente e não nos sentimos usados, nos amamos incondicionalmente e de vez em quando nos sentimos frustrados. Mas eu tenho limites, minha alma sempre será sua, mas meu corpo hoje já não lhe atende como antes. Quando nós não tinhamos limites fui Princesa, Plebéia, Amante, Atriz, Cigana. Hoje sou só bailarina. Amanha serei ex bailarina. Na verdade nunca serei ex, sempre restará dentro de mim essa coisa que nos consome e na ponta do pé essa coisa que nos sustenta, sempre. Das poucas certezas que tenho a maior delas é que cada lágrima, suor e dor valeram a pena, elas foram mínimas diante da felicidade que você me deu. Na verdade você me deu mais coisas que tirou, você foi generoso como só um grande amor consegue ser. Em muitos dias foi minha única motivação, na maioria das vezes foi meu único lado bom, você me fez ser bonita e segura, você me fez. Você é um dos meus relacionamentos mais antigos, você me conhece. Me lembro de ouvir alguém falar que com você sou pássaro. Na verdade você é meu superpoder, pois só você dá a capacidade de me transformar. Se sou pássaro você será sempre o ar que dança em minhas asas. Se sou pássaro você será sempre o céu para o meu vôo. Se sou pássaro posso sempre voltar ao ninho.
Obrigada, meu ballet!
Sua, sempre bailarina.

domingo, 2 de outubro de 2011

Drogas

A primeira vez que você usa drogas é uma sensação incrível. Tem aquela expectativa pelo que se vai sentir, tem aquele medo do que pode acontecer, e tem aquela certeza que você larga quando quiser, afinal você está só provando. Você usa a droga. Torna-se imbatível, nada pode lhe atingir, euforia, ânimo, certeza, felicidade, tudo isso lhe reveste e você tem a mais absoluta certeza que nunca mais vai ficar triste ou de mau humor. É ótimo, mas o efeito passa. Você precisa usar de novo, só para garantir que aquela sensação não foi uma ilusão, você está só fazendo mais um teste então pode largar quando quiser. Assim começa um ciclo, você usa cada vez mais. A cada nova dose há um aumento. Todos percebem que você está visivelmente viciado, menos você. Tudo gira em torno de quando vai usar a droga de novo e quanto tempo vai poder usar. Todo o tempo do mundo não é suficiente para matar o seu vício, você acorda já pensando na droga e vai dormir ainda pensando nela, planeja situações em a droga estará presente e você a terá facilmente, arruma pretextos, se desfaz em planos. Seu dia-a-dia acaba girando involuntariamente ao redor do seu vício. Tudo é melhor com a droga e com essa sensação entorpecedora que ela lhe causa. É tão bom que você quer apresentar seus amigos e deseja que eles sintam o mesmo que você, é bom ao ponto de não poder mais explicar a sensação. Você bom conhecedor de drogas percebe então, que essa droga que anda usando é de alta qualidade, boa mesmo, tão boa que não vai nem querer dividir. Pois é, a droga faz com que seu lado bom apareça e de vez em quando faz também com que seu lado egoísta se sobressaia, mas todo mundo tem uma lado egoísta mesmo que não queira expor. A diferença é que os viciados meio que perdem o poder sobre si e sobre o que sentem, sei lá... Acho que a droga domina tudo. É isso, chega-se a uma fase em que você nem se importa mais em dizer que larga quando quiser. Estar drogado é bom demais. Demais.

P.s: Juro que não estou fazendo apologia às drogas! Juro!