segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pra quem não dorme

Tenho um problema sério com o sono. Durmo demais ou de menos. Sou super acelerada então pra conseguir dormir tenho que ir pausando, controlando a respiração e fazendo todas as técnicas, mandingas e simpatias e torcer que dê certo. Uma semana dessas tive uma insônia das brabas e passei quatro dias seguidos sem dormir. Cheguei na faculdade na segunda com jeito de quem tinha corrido maratona e cara de panda com aquelas olheiras tão grandes que chegavam as bochechas. Não ligo mesmo. Chego de cara lavada e ainda enfrento uma prova diabólica como se tivesse pulando amarelinha. Mesmo que eu não durma normalmente as coisas não afetam meu humor. O problema é que mesmo sem ficar mal humorada não gosto que se animem muito perto de mim logo cedo. Fico com vontade de explodir o mundo. Acho uma tremenda sacanagem não respeitarem o silêncio da manhã. Essa semana depois de apenas três horas de sono passei por uma situação obtusa. Me senti uma criminosa em potencial, acordei com raiva do mundo e se viram pra mim e falam: ”Bom dia raio de sol”. Pelo amor de Deus só podia ser brincadeira. Eram os santos no céu testando minha paciência e meu poder de autocontrole. Acho maldade quem fala uma coisa dessas de manhã cedo. Acho maldade ser todo sorrisos quando o outro só acorda pra o mundo depois de um café muito forte e sem açúcar. Acho cruel mesmo cantar, fazer barulho e perturbar a paz da manhã. Por mim ia existir uma lei proibindo cantorias e felicidade antes das oito horas da manhã. O que eu queria mesmo era ouvir só o barulho dos passarinhos e dar bom dia só a eles. Meus pais contam que eu nunca dormi muito e acordava umas quatro da manhã para dar bom dia ao bem te vi que morava na árvore da minha casa. Isso explica muita coisa. Sou extremamente solidária aos madrugadores e insones, quem descobrir aí a fórmula do sono de oito horas seguidas me dá uma alô tá?

sábado, 4 de setembro de 2010

Profissão

Está chovendo muito.
Enquanto o mundo parece estar em seu último dia, observo de dentro, protegida, toda essa água cair. Porém, ao mesmo tempo em que estou aqui, me sinto lá fora.
Penso em cada um que foi pego de surpresa, desprevenido, no momento em que voltava ou saía de casa, quando esse temporal começou.
O céu acabou de clarear. Milhões estão lá embaixo. Outros milhões estão molhados e procuram se proteger. Novos milhões nem perceberam que estão enxarcados.
Destes tantos humanos, preocupo-me mais com com alguns. Um motorista de ônibus, por exemplo. Ele está somente fazendo o seu trabalho e não pode parar de fazê-lo - sabe Deus o por quê dele estar ali. Quem sabe de sua vida pessoal? Quem se importa? Ninguém além dele.
Nenhum de nós olha para um motorista de ônibus e se pergunta o que ele está fazendo ali. Está trabalhando, só. Somos todos tão egoístas...
Me imagino sendo um destes trabalhadores em uma noite de tempestade como esta. Estaria eu com medo de alagar ou estaria somente ali, esperando "a chuva passar"?
Enquanto estaria pensando nisso, aqueles outros milhões que foram pegos de surpresa estariam em pontos e esquinas, enxarcados, esperando na chuva por mim. Estes estão expostos ao vento frio e à agua somente porque acreditam que eu chegarei até ali. E eu estou seco. Estou dentro. Estou com medo, talvez.
Neste momento, começo a pensar: Se parar por aqui, posso apenas esperar, parado, essa noite acabar. Se ando em frente com esse ônibus, mesmo na chuva, posso estar chegando a algum lugar aonde encontre outro que esteja ali somente me esperando e que venha a me avistar sorrindo enquanto chego cada vez mais perto. Posso mudar a vida de alguém - e não só a minha - se não temer e andar. Por isso resolvo seguir em frente.
É difícil.
Tem várias poças que mais se parecem com lagos e rios, que mexem com as rodas do veículo e tentam me prender, me impedir de ir adiante. Porém, sou forte. Luto contra cada um desses obstáculos, pois resolvi que, nesta noite, não ficarei parada. Resolvi que nunca ficarei parada. Se não me mexo, nada ganho, nada perco. Se dou um passo, posso perder - mas posso ganhar também.
Nesta vida, não só por hoje em meio a escuridão que me molha, decidi que não importa o que vai acontecer ou o que aconteceu: Preciso me mexer, mudar, criar, seguir. Viver. Sou um motorista na escuridão fazendo meu caminho para casa e lutando até o final para chegar até o local, onde, sob uma claridade, algo estará esperando por mim.