segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Luto

Fulgaz. Efêmero. Passageiro. Adoro essas palavras e assim é a vida. De todas as certezas que temos a maior delas é que um dia o beijo do acordar não mais nos alcançará. O vento não mais baterá em nosso rosto, não assanhará nossos cabelos. Não comeremos mais nossa comida preferida, não sentiremos mais o perfume da pessoa amada. Não seremos mais. Como um passe de mágica que deu errado a linha da vida é cortada e tudo que poderia ser acabou. Só nos resta dor, lembranças e a sensação insuportável de impotência que nos alcança com garras afiadas e não nos deixa. Aprender a lidar com esses sentimentos é como reaprender a viver.
A dor toma por inteiro nossos corpos e transpassa o limite do físico alcançando a alma. Ela faz adoecer cada pedacinho do nosso corpo e torna o dia-a-dia insuportavelmente sofrido, não nos deixa enxergar possibilidades, não nos abandona. Os dias passam e vamos nos acostumando com aquele sofrer que virou nossa sombra, e um dia, tão acostumados com essa sensação entorpecedora nos habituamos a ela. Sofrer não é mais uma opção, mas vamos nos acostumando e aos poucos ele passa a não ocupar todo o nosso dia, depois passa a não ocupar toda a nossa semana, com o tempo ele ocupa apenas o tempo que dedicamos a ele.
As lembranças no início são coloridas com uma camada mágica que torna tudo o que foi vivido mais bonito. É como um quadro da fase surrealista do Salvador Dali, dá margem a tantas interpretações que podemos passar horas a fio fechados para o mundo externo e abertos apenas para as lembranças que temos. Tentamos reviver cada momento na esperança de que o pesadelo não seja real e que a pessoa que amamos nos acorde deste sonho ruim. As lembranças confortam, acalmam e nos diz que aqueles momentos de amor existiram de verdade. É uma fase importante do luto, pois de vez em quando a dor é tão forte que nos faz duvidar o que foi real e o que foi imaginário.
A sensação de impotência nunca irá nos abandonar. Nada nos fará sentir melhor. Repetir a oração “eu trocaria de lugar” nos conforta, a certeza em nossos corações nos acalma, mas nada possibilita uma ação que faça com que a dor e as lembranças sejam menos sofridas. A impotência nos acompanhará por toda a vida e a pior parte dela é quando percebemos que não amamos o suficiente ou não dissemos o suficiente. Quando percebemos que as reservas foram maiores que as entregas, aí sim nos damos conta que nunca mais teremos a oportunidade de dizer de novo, de viver de novo.
Estamos marcados para sempre. Temos que seguir em frente. Qual é a fórmula? Não sei, o luto não nos abandonará, mas não podemos deixar de viver a vida. Os dias aos poucos se tornarão menos sombrios, o dilúvio de lágrimas deixará de cair, aos poucos o sol voltará. Um dia quem sabe você volte a ouvir os sinos de vento. Sim, os sinos de vento.

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