quarta-feira, 1 de junho de 2011

Marcas

Marcas. O que são elas? As marcas que meu pai fazia na parede para medir meu crescimento. As marcas que eu fazia no caderno para contabilizar quantas vezes tinha ganhado no bafo dos meus amigos. As marcas nos meus pés das sapatilhas de ballet. As marcas em minhas mãos depois de escalar a árvore da minha casa. As marcas nos meus joelhos das quedas de quando estava aprendendo a andar de patins. As marcas no meu queixo de uma queda quando corria no tica-tica.
Marcas no meu diário de quantas vezes o garoto que eu gostava sorriu para mim. As marcas no meu rosto colorido de vermelho depois do primeiro beijo. As marcas nos meus cabelos depois de soltos após aquela apresentação. As marcas na minha casa depois que deixamos o meu pai. As marcas no rosto da minha mãe depois que tudo mudou. As marcas em mim quando comecei a crescer de verdade.
Marcas na minha carteira depois daquela viagem que me faliu. Marcas nas minhas fotografias depois que todos os meus amigos compartilharam minhas fotos entre eles. Marcas na minha memória do tão famoso corredor da biblioteca. Marcas de um beijo roubado na quadra de futebol. Marcas das marcas no meu rosto depois de acordar ao seu lado. Marcas das lágrimas derramadas pelo copinho descartável. Marcas dos risos nas tardes em que ficava tomando sorvete na escola.
Marcas de quando comecei a me preparar para a vida adulta. Marcas das horas sem dormir estudando para o vestibular. Marcas das lágrimas derramadas pelo estresse. Marcas da vergonha de ser cobaia na aula do cursinho de química. Marcas do carinho dos professores que eu adimirava. Marcas do dia do resultado.
Marcas do início da vida acadêmica. Marcas do reencontro com os amigos. Marcas dos namoros conturbados que acabaram mal. Marcas das saudades que se sente de uma vida descomplicada. Marcas de todos os verões ao sol. Marcas das doenças. Marcas das curas. Marcas de festas infindáveis. Marcas de uma noite de tequilas. Marcas de muitos churrascos. Marcas da graminha ao luar.
Marcas dos muitos amigos que tive e tenho. Marcas de uma vida quem vem sendo bonita. Marcas das mágoas esquecidas. Marcas das pedras no caminho. Marcas depois de plantar as flores. Marcas das lágrimas que já passaram por meu rosto. Marcas dos risos que já dei. Marcas do melhor abraço do mundo. Marcas de uma vida que só começa.
Marcas, porque apagá-las? Se são minha história, minha base, meu relicário. Marcas de tudo que é belo, não necessáriamente feliz, mas belo mesmo assim. Como viver sem um passado. O passado é pormenorizado por alguns, relativizado por outros e desvalorizado pela maioria. Meu passado é um tesouro. É tudo que sou e não sei ser sem saber quem fui. É tudo que preciso para seguir em frente, sem ele eu seria um balão solto voando no ar para estourar nas nuvens e cair ao chão, e o chão seria um precipício sem fim. Devo tudo que sou e quero ser ao meu passado e sim, as minhas marcas. Só minhas.

Um comentário:

  1. Vai ver é por você valorizar tanto as suas marcas que a vida te deu tantas. Cada sarda é uma história, como uma grande amiga gosta sempre de dizer :D

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