domingo, 12 de junho de 2011

Adeus

Acorda. O sol entra pela janela do quarto e ela tenta se orientar. Onde está? Olha para o lado e vê o relógio-despertador já tão familiar. Se vira e vê ele. Dormindo profundamente, uma mão em baixo do rosto o outro braço por cima da cintura dela. Acha a imagem singela. Tenta sair da cama sem lhe acordar. Ainda são 6:47 de um sábado pela manhã. É dia de dormir até tarde.
Sai da cama tentando se esgueirar para que ele não desperte, anda nas pontas dos pés até o banheiro. Se olha no espelho. Não se reconhece mais, seu cabelo está desgrenhado, seus olhos vermelhos e inchados. Chorou na noite anteiror. Tira o pijama e entra no box para tomar banho. A água molha o seu rosto e ela fecha os olhos para lembrar da noite anteiror, o que vem dando errado? Deixa a água percorrer o seu corpo como se lhe fizesse uma massagem.
Pega seu shampoo, ele está quase no final, parece que pressente o que irá acontecer. Lava seus cabelos e sente o cheiro tão familiar de frutas vermelhas. O cheiro que ele gosta tanto. Passa condicionador nos cabelos. Começa a penteá-los com os dedos, seus cabelos tão sedosos colam molhados em suas costas. Estão grandes, não seria melhor cortá-los na altura do queixo? Talvez daqui a alguns anos.
O sol entra pela janela do banheiro, o céu está lindo. Se pega rindo pensando que se ele tivesse vizinhos eles poderiam vê-la nua agora. Passa sabonete em seu corpo, esse cheiro familiar dele irá acompanhá-la? Se vê no reflexo do boxe. Seu corpo nú tão magro e branco. Seus cabelos cobrindo os seios. A curva da sua cintura. Ele não a verá mais.
Sai do boxe e se seca. Penteia os cabelos e passa o perfume dele em seus pulsos, se sente roubando um pouquinho dele. Se sente levando ele. Levará seu perfume consigo e lembrará deste dia quando ele começar a odiá-la. Vai para o quarto nas pontas dos pés. Seu sono é tão pesado quanto parece? Entra no closet e pega uma calça jeans muito velha, não tem nenhuma blusa, por isso pega uma camisa dele. Pega a camisa preferida dele. Desculpa-se por isso também. Se veste, calça seus sapatos. Precisa lhe dar o adeus.
Para ao seu lado na cama, senta. Tem vontade de ficar. Tem vontade de ir embora. O que foi que aconteceu com eles? Alisa seus cabelos. Beija seu rosto. Sente sua barba crescendo. Ele nem acorda. Resmunga alguma coisa no sono. Beija seus lábios quentes, mas para ele é como se fosse apenas um vento forte passando. Ele não acorda.
Sai do quarto, olha ele da porta, ele não verá nem mesmo ela indo embora, será como se eles dois nunca tivessem existido. Pega sua bolsa e suas chaves na sala. Sente que é a última vez que fará este ritual. Antes de ir embora deixa seu último bilhete de amor.
“Est-ce que tu sais à quel point je t’aime?”
14/06/08

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