sexta-feira, 13 de maio de 2011

Nunca existiu!

Eu poderia ser o sol que te acorda pela manhã, que incomoda a princípio porque te desperta do sono mas que te faz agradecer depois pelo dia tão lindo, te aquece, esquenta e passa o dia grudado na sua pele. Possibilita que você passe dias na praia, que sorria por essa claridade que eu irradio... te faria suar e te faria sentir gente. Quando esquentasse muito você comentaria de mim com qualquer pessoa na rua, falaria o dia inteiro, eu ocuparia todos os seus pensamentos e seria o motivo dos seus suspiros. Quando você se bronzeasse por minha causa eu ficaria feliz só por deixar uma marca minha em sua pele. Minha felicidade seria completa se você ganhasse umas sardas. Todo mundo sabe que sarda é poeira de ouro.
Eu poderia ser a chuva que chega no inverno. Molharia teu rosto, banharia teu corpo. Ia chegar forte e cheia de trovões, igual à um rock que reclama seu amor. Passaria dias e dias caindo aos seus pés sem me cansar. Velaria teu sono, teu sonho com meu barulhinho bom. Esfriaria o dia para que você ficasse agasalhado em casa tomando chocolate quente de meias. Eu choveria dias e dias e alagaria sua rua pra te prender em casa, nunca disse que não sou ciumenta. Você olharia pela janela e veria apenas a mim, chovendo, chorando por você.
Eu poderia ser o mar do teu litoral. Te acolheria em mergulhos suaves, percorreria teu corpo e deixaria meu gosto em sua boca. Eu viria em ondas suaves se assim te agradasse e faria você relaxar em cada minuto ao meu lado. Te traria paz de espírito, lavaria sua alma, sua calma, sua palma. Eu viria em ondas fortes se assim te agradasse, derrubaria você na areia, te arranharia como uma amante ciumenta, seria fogo e tormenta ao seu redor. Te deixaria louco, te faria me temer, se benzer e rezar para que eu não te afogasse em meu amor. Eu nunca disse que não sou passional. Eu seria paz e tormento como todo amor deve ser.
Eu poderia ser o vento que corre ao seu redor. Assanharia seus cabelos como uma mãe bondosa, me enrolaria toda em você, te cercaria como uma cela. Percorreria todos os caminhos ao teu lado, te traria perfumes, te refrescaria no calor, seria a brisa suave no fim de tarde ao pôr do sol, seria o vento forte que antecede a chuva te avisando para procurar abrigo. Tomaria conta de você, abriria estradas. Sacudiria tua camisa quando não quisesse me sentir. Eu nunca disse que não precisava de atenção. Eu velaria tuas caminhadas à beira mar e seria a sensação boa ao você fechar os olhos para guardar esse momento na memória. Eu seria tua paz.
Mas você não quis meu amor.
Então eu quero ser a cerveja que você bebe, que te deixa feliz no início da noite, te faz confraternizar com os amigos. Se divertir e ter a enganosa sensação que você pode ser tudo, fazer tudo. Te apresento a pessoas que você não conheceria sem mim, te carrego pela mão e te deixo mais seguro, te faço se sentir solto e leve para viver. Te faço feliz. No fim da noite eu te deixo embriagado, te faço esquecer quem és, te faço parecer um bobo. Farei você passar mal, se segurar pelos cantos como criança que está aprendendo a andar, amar, rezar. Te faço falar besteiras, dançar errado, te dou um engasgo na alma. Te faço beijar qualquer uma e você querido nem vai lembrar. No dia seguinte vou ser tua dor de cabeça e o gosto amargo em sua boca.
Eu quero ser o cigarro que você fuma. Passaria por sua boca, esquentaria em suas mãos e passaria por seus dedos. Te faria parecer mais descolado? Iria te inserir em rodas diferentes? Eu seria tua eterna viagem e tomaria cada canto do teu pensamento. Eu te mataria. Te mataria minuto a minuto, você definharia sob o meu poder. Morreria lentamente sem perceber. Um dia simplesmente não acordaria mais. Eu nunca disse que não sou vingativa.
Eu quero ser a dor mais forte que você já sentiu. É, eu seria seu coração partido. Seu coração rasgado. Eu seria seu amor perdido. Eu faria você sofrer da hora em que você acorda a que vai dormir. E você não me esqueceria um só minuto. Eu seria tão forte que você teria a impressão que está morrendo. Eu não doeria só no seu coração, eu doeria em cada osso e cada respiração. Eu doeria tanto que você iria preferir morrer, dormir, não acordar. Eu doeria em você como se todas as catástrofes pairassem sob sua cabeça. Eu seria a existência uma vez sólida e compacta esticada num fio finíssimo e longo que pode se partir a qualquer momento. Eu seria uma dor tão profunda que você não sorriria nunca mais de verdade. Você nunca me esqueceria e um dia tão cansado de doer morreria entorpecido pela dor.
Eu quero ser suas lágrimas e o seu sofrimento a expeli-las. Seria como o parto de uma criança, seria um redemoinho de sofrimento. Eu seria tormento e loucura. Estaria com você a cada momento. Correria pelo seu rosto e deixaria minhas marcas. Eu seria todo o sofrimento que você nunca imaginou sentir, eu seria a cerveja, o cigarro, a dor, as lágrimas, o sofrimento e a loucura. Eu acabaria com você.
Mas você não merece nenhuma parte de mim.
Então eu serei a indiferença. Eu não me importarei com você, não lembrarei de você. Você será uma página da minha vida e o tempo vai passar. A página vai ficar amarelada e as letras escritas em lápis se apagarão. Você não será nem a memória de um sonho ruim. Tudo o que me fez, tudo o que rejeitou desaparecerá. Passarei por você na rua e não te reconhecerei, você me verá, me achará diferente. Seria alguma coisa em minha postura ou no meu andar. Mas eu esquecida de você não falarei uma só palavra, e você com certeza ficará a prantear a garota que talvez fosse a da sua vida, passar e te esnobar. Você não será lembrado, e meu bem o que não é lembrado não existiu. Você nunca existiu!