quarta-feira, 1 de junho de 2011

Roma

Roma. A cidade eterna. De um lado da rua você vê as sorveterias, os restaurantes com suas massas carbonaras maravilhosas e todas as características de uma cidade cosmopolita. Lambretas cruzando a cidade como como libélulas que voam sem destino. Moças bonitas em seus vestidos e sapatilhas andando como quem flutua sobre as calçadas, como se fossem feitas de algodão. Revela-se em seu andar o temperamento passional das italianas.
Do outro lado o Coliseu com seus 2.000 e tantos anos de história, o Templo de Saturno, o Fórum Romano e a Fontana de Trevi. A beleza da antiguidade tão efetiva, conflitando com o novo, o recente e porque não também o belo modo de vida moderno. É quando o velho se torna parte da paisagem e a gente se acostuma com o grandioso no dia-a-dia. Andando pelas ruas ao sol a gente se pergunta como eles se acostumam a viver na cidade eterna, como não sentem a magia dos grandes monumentos, como não se espantam?
Reparei que nenhum dos monumentos é cercado. Eles estão abertos ao ar livre, não têm muros, muralhas, grades e nenhuma forma de proteção contra a aproximação de quem quer que seja. Eles estão abertos. Dos séculos atrás em que foram construídos aos dias de hoje nunca tiveram grades para que fossem protegidos. Eles estão livres... Não é estranho? Que a grandiosidade, beleza e eternidade com toda a sua mágica esteja aberta, não seja cercada de nenhuma forma?
De que serviriam os muros se o Coliseu é tão grandioso que seria visto e admiriado mesmo por trás deles? Meu Deus, quem em sã consciência esconderia toda a beleza da Fontada de Trevi? E para que estes monumentos deveriam ser protegidos se devem ser admirados, se as pessoas precisam ter a oportunidade de entrar nessa beleza e carregar essa magia pra a sua vida?
Mas os muros foram criados para a proteção, eu entendo. Não vê a muralha da China? Eu compreendo toda a logística que gira em torno dos sistemas de segurança do Louvre em Paris. Afinal de contas eu sou uma adulta. Sou gente grande, tenho a obrigação de compreender que devemos nos proteger, proteger nosso patrimônio, nossas vidas, quem amamos e porque não nosso coração?
Esse é o ponto.
Essa é a parte fácil, proteger o nosso coração é quase instintivo. Funciona como quem anda no piloto automático, como quem coloca a mão na frente do passageiro ao lado no carro num freio brusco. É como a proteção do instinto materno. Proteger o coração é tão natural como respirar e as pessoas têm que compreender isso. É natural. É fácil, é se cercar de muralhas e esconder os sentimentos. Camuflar os sentimentos. O grande problema disso é que determinadas pessoas se protegem tão bem e se escondem tão bem que acabam virando um grande labirinto.
Você já deve ter ouvido falar no labirinto da mitologia grega, nele existe o Minotauro que recebe jovens para devorá-las. O minotauro é um monstro, metade homem metade touro. É morador permanente do labiritno. Assim como os labirintos, as pessoas camufladoras de sentimentos têm o Minotauro dentro de sí, metade homem metade touro habita o coração delas. Esse é o perigo.
Como não se proteger com muralhas quando se depara com uma pessoa camufladora, uma pessoa labirinto? A reação básica do instinto nos obriga a erguer as grades que não deveriam existir em torno do monumento grandioso que é o nosso coração. O medo nos faz ter a ilusão de que estamos nos protegendo, quando na verdade estamos nos perdendo nos olhos da pessoa labirinto. Só nós mesmos temos a ilusão de que estamos protegidos, quando na verdade o Minotauro à espreita nos espera... Meu bem, você foi devorada e nem viu.
O que é melhor? Se perder nos olhos da pessoa labirinto tendo a certeza que terá um encontro marcado com o Minotauro? Ou ser transparente ao ponto de não conseguir esconder nem mesmo nuances em nossos olhos, e mesmo assim ter seus sentimentos invisíveis a quem mais importa? Sim porque pessoas camufladoras e pessoas labirintos se perdem em sí mesmas. Elas estão mais preocupadas em camuflar o que sentem, em ser labirintos em sí mesmas que esquecem os outros. É como se a pessoa transparente fosse a Medusa e ao olhá-la a pessoa labirinto ficasse cega. Ela não enxerga beleza, não enxerga decepção, mas o pior de tudo ela não enxerga amor.
Então, assim como o Coliseu, O Fórum Romano e a Fontana de Trevi é melhor permanecer sem grades, sem muros, sem muralhas. Permanecer livre, aberta, verdadeira, transparente. Porém a pergunta que me faço e me torna não uma camufladora de sentimentos, não uma uma enganadora, mas um labirinto de sentimentos e análises é: De que me adianta a transparência se sou Medusa? Aos seus olhos me sinto nua e minha multidão é uma só pessoa. Mas como fogo queimei seus olhos e mais parece que queimei também todas as suas percepções. Sou tão transparente que para você sou invisível, o meu striptease em praça pública não lhe atinge.
Se sou Medusa como posso ser também Teseu, o único capaz de matar o Minotauro que há em você? Não tenho grades, muros, muralhas ou armas. Como posso lutar contra você? Com você? Como posso? Pensei em vendar seus olhos para que minha imagem não o cegasse mas mesmo assim você não me veria. Pensei em tantas possibilidades mas em nenhuma delas você me veria. Então pensei em lhe dizer que quando em Roma leia-me ao contrário e então você me verá. Amor.

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