quinta-feira, 8 de julho de 2010

Sardas

Sou cheia de sardas. Se você procurar a descrição do que elas são, vai encontrar um resumo dizendo que são manchas causadas pelo aumento da melanina na pele e que existe uma tendência familiar as fazendo surgir principalmente em pessoas de pele clara e ruivas. A verdade é que sou uma sardenta típica. Quando criança era chamada de enferrujada, as pessoas perguntavam se eu tinha esquecido de me enxugar quando tinha saído do banho e coisas do tipo, quanto mais sardenta eu ficava mais odiava as sardas. Quando entrei na adolescência tentava esconder as sardas com maquiagem, tentava encobrir como se fossem cicatrizes de um acidente feio. Com os anos passei a receber elogios as minhas sardas. Os rapazes se utilizavam delas como meio de paquera, o que eu achava muito engraçado. Era todo tipo de cantada direcionada aos meus sinais. Um uma vez chegou a me dizer que minhas sardas era poeira de ouro agarrada a minha pele. Outro falou que as sardas dos meus ombros era como uma marca de cada dia da minha vida. Depois disso passei a enxergar minhas sardas com outros olhos, meus pontinhos dourados espalhados pelo corpo deixaram de ser perseguidos com maquiagem e cremes clareadores e foram assumidos assim como os centenários assumem suas rugas. Tentei buscar na minha memória os bons dias em que achava que cada uma das minhas sardas tinha nascido. Aquele dia de sol e vento em que tentei aprender a surfar, o mês que passei me bronzeando e jogando bola na casa de praia, ou até mesmo o verão em que passei no vestibular e transitava entre as praias e festas como um cardume de peixes que acompanha a correnteza. Descobri que minhas sardas faziam parte dos melhores momentos da minha vida e assim passei a assumi-las como marcas das melhores lembranças dos verões que já tive.



"Era fã de carteirinha dos desenhos na pele, a chance do mundo inteiro ser sardento – o sardento é um iluminado de nascença"
Fabrício Carpinejar.

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