quarta-feira, 7 de julho de 2010

A moça que passa

É dia claro... manhã de sol que insiste em se fortalecer atrás das nuvens, a moça desce os degraus que a separa da praia. A água lambe a areia, as crianças pequenas ainda mais diminuídas pela imensidão daquele mar também são banhadas, seus castelos -muralhas de areia- são destruídos e levados para o fundo do mar, e com eles sonhos de pequenos reis e rainhas.
Mas a moça apenas observa, parecendo alheia ao que se passa ao seu redor, como na poesia do velho Vinícius ela apenas passa. Ainda é cedo, na praia apenas crianças, babás e velhos caminham entre as belas pedras que guardam segredos dos anos -que também passam- a beira mar.
A moça caminha inatingível molhando os pés na água e pensando na complexidade da vida. Planeja, repensa, muda de idéia, a aflição de quem ainda não sabe tomar decisões predomina no seu coração.
Ela vai caminhando devagar, olhando aquela paisagem, esquecendo sua vida e agradecendo pelo dia estar tão bonito. Seus olhos refletem amor, ela teme fecha-los e com isso perder esse sentimento, ela desconhece que o amor se transforma, mas não passa.
De repente como se tomada de uma súbita decisão a moça para, olha ao redor, e resolve sentar, ela recua para onde a água não possa alcançá-la e senta-se, de repente como se pela primeira vez na vida ela visse e não apenas olhasse, ela repara.
Repara no velho que caminha só, e imagina que histórias ele pode ter vivido, seus grandes amores e suas dores, mas pra onde ele caminha? Vê uma mãe andando atrás do filho pequeno, aproximadamente uns dois anos, e enxerga que além dos sorrisos trocados entre os dois existe amor, confiança e toda a verdade que existe na relação mãe-filho, a criança alheia ao mundo ao seu redor apenas fecha os olhos e sente a mãe acariciar seus cachinhos. A moça pensa, e quando tiver meus filhos? E ri com essa possibilidade. Toda moça -seja ela a que passa ou não- pensa nessa possibilidade.
A moça reparara que todos caminham com determinação e parecem saber para onde vão e o que farão, enquanto ela -tremendo ao constatar- apenas passa. Essa idéia a faz perceber que sua vida ainda não é guiada por um objetivo, sente-se então “ovelha desgarrada”. Nenhumas das escolhas que fez em sua vida foram definitivas, tudo em sua vida passa. Ela resolve a partir deste momento se guiar sem julgamentos e pré-conceitos, resolve ser ela mesma sem mais ninguém interferindo, ela cansou de ser apenas a moça que passa.
A moça levanta-se e ao longe vê o rosto bonito de um rapaz desconhecido, caminha resoluta ao seu encontro. Os anos passam.

Um comentário:

  1. A moça que observa tudo é você hoje, a mãe que está com a criança é o que você quer ser amanhã.

    Parabéns!

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