quarta-feira, 7 de março de 2012

O Homem, a Mulher e o Problema

Estão ali, os três, o Homem, a Mulher e o Problema. Encaram-se mutuamente, numa mesa pequena e redonda. O Homem observa o Problema: detesta-o, não o quer ali. A Mulher, mais paciente, finge que consegue ignorar o Problema enquanto ganha tempo para resolvê-lo de uma maneira tão eficaz que o impedirá de retornar.

O Problema olha os dois e ri. Não há consenso nos métodos, então vai ficando.

O Homem e a Mulher se aproveitam de uma distração do Problema e tentam se unir contra a indesejável presença. O Homem traça retas, e todas elas apontam para saídas óbvias. Admite aqui e ali algumas perdas, mas o Problema estaria, a seu ver, resolvido.

A Mulher se indigna. Não pode ser tão simples. Há tanta complexidade nas causas da presença do Problema que lhe parece leviano tratá-lo de maneira tão sumária. As respostas do Homem a fazem espumar, tanta síntese só pode ser fruto de uma única razão: o Homem não está dando a mínima ao Problema. Não pode ele resolver em minutos o que tomou dela tantos tantas horas de reflexões e parece comprometer uma série de situaões passadas e eventualidades futuras.

O Problema olha os dois e ri. Não há consenso nos métodos, então ele pode ficar.

O Homem se entedia. Está ouvindo a Mulher falar as mesmas coisas de formas diferentes, voltar aos pontos anteriores, ela parece demonstrar uma imensa dificuldade em aceitar que, para expulsar o Problema, talvez haja algum prejuízo. “Nunca jogou bola, dá nisso”, pensa o Homem. Perde-se aqui, ganha-se lá na frente, ele pensa. Já cansou de na mesma noite perder um jogo, ver cronômetro e placar zerarem e ganhar a próxima. “Se ela vai ficar só se repetindo, não preciso ouvir”, ele decide.

Ao notar isso, a Mulher definitivamente deixa o Problema de lado. Sua questão agora é o Homem e sua insensibilidade, sua incapacidade diante do Problema. Ela retorna a questões ainda mais anteriores, que já demonstravam que ele não seria hábil o suficiente no dia em que porventura o Problema surgisse. O Homem brada em retas, a Mulher dança em círculos, num ritual primitivo em torno da fogueira das vaidades.

De longe, o Problema olha os dois e ri. Eles já o esqueceram, então ele pode ficar, como os outros Problemas que eles destilam agora diante de si.

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