Se eu pudesse colocaria uma redoma em volta do amor e nada no mundo poderia tocá-lo. Os problemas e preocupações do dia-a-dia nunca poderiam atingi-lo e nada o perturbaria. O amor seria sempre calmo e leve como as nuvens de algodão.
Se eu pudesse colocaria cercados em volta do amor e nada no mundo se aproximaria dele. Pessoas mal intencionadas não chegariam perto, eu dormiria tranquila sabendo que o amor estava protegido de intrusos ou ladrões que queiram roubá-lo de mim. O amor seria meu e estaria sempre a minha espera.
Se eu pudesse decretaria o silêncio ao redor do amor e ninguém no mundo falaria com ele além de mim. Vozes feias e estranhas jamais perturbariam o amor e ele só ouviria o canto dos pássaros e as vozes mais bonitas do mundo, porque eu pessoalmente as selecionaria. O amor estaria sempre em um ópera moderna e ouviria apenas a mim.
Mas eu não posso e não quero.
Uma redoma impediria que o amor sentisse o vento e o gosto da chuva, ele não veria o sol nem os arco-íris que se formam, não veria as cores e não saberia como é o gosto da liberdade. O amor seria calmo e nunca me surpreenderia, seria dia após dia nuvens de algodão, e eu tão acostumada a tê-las não veria mais desenhos novos e não sonharia com os anjos brincando de pulá-las no céu.
Um cercado impediria que o amor conhecesse novas pessoas e ele não saberia que neste mundo imenso existem milhares delas, boas e más. O amor não saberia distingui-las, seria ludibriado por qualquer uma e talvez não percebesse que em meio as multidões alguém o ama incondicionalmente. O amor precisa de experiências para perceber que uma única pessoa deve bastar para fazê-lo feliz.
O silêncio impediria que o amor ouvisse todas as vozes do mundo. O amor não saberia o que é uma voz bonita ou feia, pois seu conceito dependeria do meu gosto. Assim o amor nunca me ensinaria algo novo, nunca me apresentaria uma nova música e nós não íamos ter uma descoberta só nossa. O amor só conheceria minha voz, como ele poderia saber que a minha voz será aquela que ele quer ouvir mesmo em meio a todas as outras vozes do mundo?
Eu quero que o amor seja livre.
Sem as redomas o amor pode caminhar com seus próprios pés e conhecer o mundo todo. Ele vai ver como o mundo pode ser belo e como pode ser feio, como existe sofrimento e felicidade em todos os lugares. Ele terá novidades sempre e se voltar para mim depois de caminhar, saberei que percebeu que sua felicidade é ao meu lado.
Sem cercado o amor saberá como é saboroso o abraço. Ele abraçará muitas pessoas e terá muitos amigos, aprenderá dia após dias a fazê-los e reconhecê-los e assim terá anjos a sua volta por uma vida inteira. O amor se sentirá pleno e feliz. Em algum momento talvez se decepcione, mas será bom, o amor aprenderá a se reerguer após uma tristeza. Talvez o amor perceba que entre tantos abraços o que mais lhe acolhe é o meu e assim queira sempre me abraçar de volta.
Sem o silêncio o amor saberá como o mundo é barulhento e como esse barulho nos faz sentir inseridos. Com tantos sons, o amor perceberá que nunca estará sozinho, se identificará com músicas e vozes, ouvirá verdades e mentiras. O amor aprenderá que a verdade deve ser dita não pelos lábios, mas sim pelo coração. Talvez o amor descubra que só o meu coração fala com ele, meus lábios adquiriram a função dos beijos. Talvez o amor descubra que minhas palavras são sempre verdade e que um "eu te amo" é tão sagrado quanto uma oração.
terça-feira, 27 de março de 2012
terça-feira, 20 de março de 2012
Laço de Sorte
A família nunca foi tão moderna assim como nunca foi tão moderno ser/ter família. Papai, mamãe, filhinho, avô, tio, irmão. Família é muito bom, e irmão é um capítulo à parte. Ou um livro inteiro. De aventuras. Irmão acaba sendo um pouco como alma gêmea. Não parece? A gente ama porquê ama.
Ser irmão é ser cúmplice. É ter um cúmplice, sempre e em tudo. Nas lembranças, na história, nos passos dados, nas dores, nos dissabores. Irmão é incondicional. Tem um sorriso guardado dentro de nós que é só deles. De mais ninguém. Ter um irmão é não estar só no mundo. Nunca. Mesmo quando eles não estão. E são tantos tipos…
Os que não se largam, os reservados, os que guardam mágoas, os desapegados. Tem irmão mais velho, irmão mais novo, e tem o irmão do meio que não gosta de beijo. Tem gente que tem irmão em penca, tem gente que é filho único e sai transformando todo mundo em irmão. Tem irmão que consegue ser mais que irmão. Vira mago, fada, pai, mãe, mestre, filho, amor!
Pensar nisso me dá um arrepio na espinha, termo antigo para tentar falar que irmão, pra mim, é uma ligação meio mágica, ligação composta de sangue e umas partículas mágicas que nos fazem parecidos por dentro e por fora. Eu suspiro porquê cada momento da minha vida, os de criança em especial, foram agraciados com essa presença. A vida é mais bonita por isso. Família e irmãos.
Bem perto, distante, ou super presente, a gente pode até nem se falar, mas esse tipo de amor é feito de um laço muito bem dado que nada nem coisa nenhuma é capaz de desfazer.
Irmão é laço de sorte que dura pra sempre. É muita sorte!
Ser irmão é ser cúmplice. É ter um cúmplice, sempre e em tudo. Nas lembranças, na história, nos passos dados, nas dores, nos dissabores. Irmão é incondicional. Tem um sorriso guardado dentro de nós que é só deles. De mais ninguém. Ter um irmão é não estar só no mundo. Nunca. Mesmo quando eles não estão. E são tantos tipos…
Os que não se largam, os reservados, os que guardam mágoas, os desapegados. Tem irmão mais velho, irmão mais novo, e tem o irmão do meio que não gosta de beijo. Tem gente que tem irmão em penca, tem gente que é filho único e sai transformando todo mundo em irmão. Tem irmão que consegue ser mais que irmão. Vira mago, fada, pai, mãe, mestre, filho, amor!
Pensar nisso me dá um arrepio na espinha, termo antigo para tentar falar que irmão, pra mim, é uma ligação meio mágica, ligação composta de sangue e umas partículas mágicas que nos fazem parecidos por dentro e por fora. Eu suspiro porquê cada momento da minha vida, os de criança em especial, foram agraciados com essa presença. A vida é mais bonita por isso. Família e irmãos.
Bem perto, distante, ou super presente, a gente pode até nem se falar, mas esse tipo de amor é feito de um laço muito bem dado que nada nem coisa nenhuma é capaz de desfazer.
Irmão é laço de sorte que dura pra sempre. É muita sorte!
quarta-feira, 7 de março de 2012
O Homem, a Mulher e o Problema
Estão ali, os três, o Homem, a Mulher e o Problema. Encaram-se mutuamente, numa mesa pequena e redonda. O Homem observa o Problema: detesta-o, não o quer ali. A Mulher, mais paciente, finge que consegue ignorar o Problema enquanto ganha tempo para resolvê-lo de uma maneira tão eficaz que o impedirá de retornar.
O Problema olha os dois e ri. Não há consenso nos métodos, então vai ficando.
O Homem e a Mulher se aproveitam de uma distração do Problema e tentam se unir contra a indesejável presença. O Homem traça retas, e todas elas apontam para saídas óbvias. Admite aqui e ali algumas perdas, mas o Problema estaria, a seu ver, resolvido.
A Mulher se indigna. Não pode ser tão simples. Há tanta complexidade nas causas da presença do Problema que lhe parece leviano tratá-lo de maneira tão sumária. As respostas do Homem a fazem espumar, tanta síntese só pode ser fruto de uma única razão: o Homem não está dando a mínima ao Problema. Não pode ele resolver em minutos o que tomou dela tantos tantas horas de reflexões e parece comprometer uma série de situaões passadas e eventualidades futuras.
O Problema olha os dois e ri. Não há consenso nos métodos, então ele pode ficar.
O Homem se entedia. Está ouvindo a Mulher falar as mesmas coisas de formas diferentes, voltar aos pontos anteriores, ela parece demonstrar uma imensa dificuldade em aceitar que, para expulsar o Problema, talvez haja algum prejuízo. “Nunca jogou bola, dá nisso”, pensa o Homem. Perde-se aqui, ganha-se lá na frente, ele pensa. Já cansou de na mesma noite perder um jogo, ver cronômetro e placar zerarem e ganhar a próxima. “Se ela vai ficar só se repetindo, não preciso ouvir”, ele decide.
Ao notar isso, a Mulher definitivamente deixa o Problema de lado. Sua questão agora é o Homem e sua insensibilidade, sua incapacidade diante do Problema. Ela retorna a questões ainda mais anteriores, que já demonstravam que ele não seria hábil o suficiente no dia em que porventura o Problema surgisse. O Homem brada em retas, a Mulher dança em círculos, num ritual primitivo em torno da fogueira das vaidades.
De longe, o Problema olha os dois e ri. Eles já o esqueceram, então ele pode ficar, como os outros Problemas que eles destilam agora diante de si.
O Problema olha os dois e ri. Não há consenso nos métodos, então vai ficando.
O Homem e a Mulher se aproveitam de uma distração do Problema e tentam se unir contra a indesejável presença. O Homem traça retas, e todas elas apontam para saídas óbvias. Admite aqui e ali algumas perdas, mas o Problema estaria, a seu ver, resolvido.
A Mulher se indigna. Não pode ser tão simples. Há tanta complexidade nas causas da presença do Problema que lhe parece leviano tratá-lo de maneira tão sumária. As respostas do Homem a fazem espumar, tanta síntese só pode ser fruto de uma única razão: o Homem não está dando a mínima ao Problema. Não pode ele resolver em minutos o que tomou dela tantos tantas horas de reflexões e parece comprometer uma série de situaões passadas e eventualidades futuras.
O Problema olha os dois e ri. Não há consenso nos métodos, então ele pode ficar.
O Homem se entedia. Está ouvindo a Mulher falar as mesmas coisas de formas diferentes, voltar aos pontos anteriores, ela parece demonstrar uma imensa dificuldade em aceitar que, para expulsar o Problema, talvez haja algum prejuízo. “Nunca jogou bola, dá nisso”, pensa o Homem. Perde-se aqui, ganha-se lá na frente, ele pensa. Já cansou de na mesma noite perder um jogo, ver cronômetro e placar zerarem e ganhar a próxima. “Se ela vai ficar só se repetindo, não preciso ouvir”, ele decide.
Ao notar isso, a Mulher definitivamente deixa o Problema de lado. Sua questão agora é o Homem e sua insensibilidade, sua incapacidade diante do Problema. Ela retorna a questões ainda mais anteriores, que já demonstravam que ele não seria hábil o suficiente no dia em que porventura o Problema surgisse. O Homem brada em retas, a Mulher dança em círculos, num ritual primitivo em torno da fogueira das vaidades.
De longe, o Problema olha os dois e ri. Eles já o esqueceram, então ele pode ficar, como os outros Problemas que eles destilam agora diante de si.
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