quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Bondade

Quando eu tinha entre 11 e 12 anos resolví aumentar meu nível de leitura e ir aprimorando o gosto. Meus pais liam em média 20 livros por ano e se eu não lesse não acompanhava o papo do jantar. Pedí que minha mãe me indicasse um livro que ela gostasse muito. Foi a melhor coisa que fiz naquela época, minha mãe conhecendo casa desejo meu, cada cantinho do meu pensamento, me mandou ler um livro que ela mesma tinha lido na adolescência: “Olhai os lírios do campo”, do Érico Veríssimo. Foi amor à primeira vista. A mocinha da história era tudo que eu queria ser... generosa, altruísta, boa, amorosa, leal, fiel e tinha a fé mais inabalável que já ví.
Por anos e ainda hoje persigo esse modelo de ser humano que acho que só existe nos livros. A principal qualidade da Olívia era sua bondade. Hoje eu me pergunto o que é bondade, na verdade na maioria dos dias confundo bondade com sentimentos positivos. A bondade para mim é como um exercício diário, é ser generoso quando na verdade a gente quer ser um pouquinho egoísta, é ceder algumas vezes mesmo que com dificuldade, é ser leal aos amigos mesmo nos dias ruins, é pedir desculpas mesmo que tenhamos que deixar o orgulho de lado, é na verdade ter pouquíssimo orgulho.
É muito fácil ser bom com quem gostamos, difícil é ser bom com aquela pessoa que a gente não suporta, ser bom neste momento não é necessariamente travar uma relação de amizade forçada, poderia ser apenas oferecer um sorriso para a boa convivência. Ser bom é perdoar e esquecer, e essa é a maior luta que pode ser travada, é a guerra interna da maioria das pessoas. Não adianta viver sem generosidade, sem um propósito maior, pois no fim da vida virá a pergunta: Que fiz eu por todos esses anos além de buscar por minha própria felicidade? De que adianta ser tão feliz se do outro lado da rua pessoas sofrem dores inimagináveis?
No fim de tudo essa idéia de bondade e generosidade talvez seja um pouquinho ingênua e alguns diriam até mesmo utópica. Mas sabe de uma coisa? Prefiro a ingênuidade a malícia dos valores modernos. Sou uma menina à moda antiga, sou careta, certinha, responsável e minha preocupação é sim dividida entre o bem e o mal. Eu quero ser boa, rezo todos os dias para que um dia seja.
Coloquei abaixo uma carta da Olívia para o Eugênio que marcou minha vida do dia que lí para sempre!

"O dia mais importante da minha vida foi aquele em que, recordando todos os meus erros, achei que já chegara a hora de procurar uma nova maneira de ser útil ao próximo, de dar novo rumo às minhas relações humanas.

Que era que eu tinha feito senão satisfazer os meus desejos, o meu egoísmo? Podia ser considerada uma criatura boa apenas porque não matava, porque não roubava, porque não agredia? A bondade não deve ser uma virtude passiva.

No dia em que achei Deus, encontrei a paz e ao mesmo tempo percebi que de certa maneira não haveria mais paz para mim. Descobri que a paz interior só se conquista com o sacrifício da paz exterior. Era preciso fazer alguma coisa pelos outros.

O mundo está cheio de sofrimento, de gritos de socorro. Que tinha eu feito até então para diminuir esse sofrimento, para atender a esses apelos? Eu via a meu redor pessoas aflitas que para se salvarem esperavam apenas uma mão que as apoiasse, nada mais que isso. E Deus me dera duas mãos! Pensei em tudo isso numa noite de insônia. Quando o dia nasceu senti que tinha nascido de novo com ele."

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Caetano

Você é um babaca. Eu sei, eles sabem e você mesmo sabe. Mas é um babaca adorável que eu aprendí a amar desde cedo. Por sua causa tive dias lindos, horas lindas, segundos lindos e inspirações para a vida inteira, querido você é um babaca inspirador e isso é lindo. Você foi trilha e desejo do meu ballet. Reparei algumas vezes que dançar com você, sim com você, me fazia flutuar. Tive ciúmes, sou terrível quando gosto muito. Os clichês com você não parecem clichês, são poesia renovada, pintada de ouro com cheiro de pétalas. Te ví no aeroporto uma vez sabe, você nem percebeu meus suspiros, tive vontade de gritar: “vem cá meu nêgo”, e você não acharia uma afronta, acharia bonito sim que te conheço. Não vou ficar aqui discursando e dispersando meu amor, alardear amor dá azar sabe? E você meu bem, já sabe que todas te amam. Só quero te dizer: Caetano Veloso, de vez em quando te amo demais!

Não quero sugar todo seu leite
Nem quero você enfeite do meu ser
Apenas te peço que respeite
O meu louco querer
Não importa com quem você se deite
Que você se deleite seja com quem for
Apenas te peço que aceite
O meu estranho amor
(...)
Nosso estranho amor - Caetano Veloso

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Desculpo sim!

Todo mundo tem um ponto fraco. Aquele calcanhar de Aquiles que se atingido faz a pessoa perder uma guerra inteira. Aquela fragilidade extrema coberta por camadas e camadas de coragem. É mais como uma carta que sustenta um castelo gigantesco de cartas. Algumas pessoas convivem por anos com outra e nunca descobrem o ponto de fragilidade em que o outro perde o equilíbrio da vida, outras nos olham por cinco minutos e enxergam todas as fragilidades que supostamente escondemos. Umas fazem questão de fazer de conta que não enxergam, seja por respeito ao outro, seja por se enxergar também vulnerável ou ainda por medo que o castelo desmorone. Há um tipo específico de gente que faz questão de tripudiar sobre nossos medos, de acabar com nossa alma, de despertar nossos pesadelos, de nos entregar como filhotes de gatos aos gladiadores. Tem gente que mata com uma palavra, tem gente que mata com um olhar.
Eu queria dizer a você, sim exatamente você que me magoa. Eu sou uma das pessoas mais corajosas que conheço, sou mais forte que aqueles caras da luta livre, sou equilibrada, estável, responsável e centrada. Meus amigos me procuram quando têm problemas, não porque eu sou a dona da verdade, mas porque me importo genuinamente com a felicidade deles. Eu sou generosa, coloco as pessoas que amo acima de tudo. Eu sou leal, sou fiel. Defendo com unhas e dentes quem amo e o que acredito. E sim, eu tenho defeitos, mas todo mundo tem. Eu tenho classe, e isso não envolve dinheiro ou bens, eu tenho educação e tenho berço, isso não se compra com dinheiro nenhum do mundo. Eu sou amada, você sabe o que é isso? Amada de verdade, as pessoas se importam comigo e com o que eu sinto e essa, meu bem, é minha maior defesa. Eu não preciso ser grande nem forte, o meu escudo é fortalecido todos os dias. Meu escudo tem tantas camadas que você nunca vai me atingir de verdade, minha família me protege, meus amigos me sustentam e minha fé que as coisas vão melhorar me carrega.
É doloroso ter nossos pesadelos fomentados, mas pesadelos são só sonhos ruins, uma hora a gente acorda sabe? Eu desculpo você. Não porque sou boa, mas porque o perdão liberta e quero ser livre de tudo que não me faz bem. Você é pequena demais, insignificante demais para ocupar meus pensamentos e meus dias. A partir de hoje é um assunto encerrado. Desculpo sim e boa sorte. Só tem mais uma coisa: não vou morrer, na verdade vou sim, quando tiver 100 anos abraçadinha a um velhinho lindo com muitos netinhos e bisnetos, feliz por ter sido generosa, feliz por ter a capacidade de perdoar. Alguém mais esperto que eu me disse que o mal se paga com o bem. Desculpo você.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

09/09

Procurei no restaurante um rosto conhecido, um único rosto. Me lembro como se fosse hoje que já estava atrasada, era semana de provas na faculdade e eu tinha ficado até mais tarde tantando convencer meu professor a corrigir minha prova. Você me viu de longe, eu sei disso. Sentí o seu olhar e fui correndo ao seu encontro. Ganhei o melhor abraço, ganhei meu beijo na testa como tanto gostava, ganhei sentir seu cheiro de novo, ganhei a lembrança da infância. Sentamos para almoçar e enquanto tagarelava sobre minhas provas, minhas saídas, meu namoro ou qualquer outra coisa incrívelmente irrelevante você apenas observava e assentia. Como se tudo que eu falasse fosse tão importante quanto a fome na África. Comemos nossas saladas e toda a nossa comida natureba felizes. Bebemos vinho branco, na verdade eu bebí quase todo o vinho e passei a dar muitas risadas. No fim do almoço eu dei seu presente, a coleção de todos os exemplares de revistas do TEX que eu passei dois anos garimpando por várias cidades do país. Foi uma comemoração e um aniversário em grande estilo. Acho que vai fazer três anos. Queria desejar as mesmas coisas a você, queria abraçá-lo amanhã e ganhar um beijo na testa como se não fosse o seu e sim o meu aniversário. Queria preparar seu café da manhã como fazia quando era criança. São outros tempos, muitos sentimentos mudaram, sou outra pessoa também. Queria que você soubesse de mim um pouquinho, só das coisas boas. Queria muitas coisas, que provavelmente não vou fazer. Talvez eu te ligue amanhã, talvez apareça no jantar para o qual fui convidada, sim convidada. E é estranho ser convidada a voltar a nossa própria casa considerando que ainda tenho roupas, livros e bonecas morando lá. Se eu não aparecer faça o favor de me perdoar, acho que ainda não estou pronta para ser visita. Se eu for por favor, não me trate como se eu fosse um dos seus convidados, não me diga para ficar a vontade na minha própria casa. De todo modo, talvez eu não tenha coragem o suficiente. Então como a carta é minha, o blog é meu e a vida é minha vou desejar Feliz Aniversário aqui. Foda-se todo o resto, é pessoal, mas o que diabos nessa vida não é pessoal? Espero que você ainda tenha sonhos a realizar, espero que consiga ser feliz, espero que aprenda a perdoar e sinceramente que seja perdoado. Certas coisas nunca mudam... mon père! joyeux anniversaire… Je t'aime. (Ao seu estilo)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Carta II

Querido André, na sala de espera, eu vi um menino pousar o olhar no vazio e escorregá-lo até o chão. Fui perseguindo aquele olhar tão triste, e vi como os sapatos dos pacientes se encostavam um no outro, sem desbotar as cores ou desfazer os laços. Olhei ao redor, impaciente, procurando alguma testemunha, mas só se um piano caísse do teto, em acorde menor, para que alguém ouvisse as tristezas daquele menino…
Era preciso mais. Era preciso que Van Gogh saísse de um dos quadros por engano, e também se sentasse ao lado dele, olhando apaixonadamente para o chão. Era preciso que Van Gogh ali estivesse furioso, pincelando as paredes ao nosso redor, até que todos notassem o quanto um par de velhos sapatos podia ser assim, tão belo, quanto os silêncios de um girassol…
E foi nessa hora, ao levantar os olhos, que eu lembrei de você. Os teus sapatos denunciavam o teu andar discreto e os teus gestos silenciosos. Eles chegavam de mansinho, gastos, inaudíveis, pontilhados. Chegavam leves, tão leves: sem assustar os passarinhos.