quinta-feira, 25 de agosto de 2011

REpresentear


Acontece que eu gosto muito de apostar
Aposto com você que de vez em quando sei rimar
Essa rima de hoje é pra você acreditar
Que o presente tem que voltar
Na verdade é um REpresentear

Num dia desses eu fui viajar
Sonhando sempre em ser uma bailarina popstar
Dancei dancei até a ponta do dedindo machucar
Rezei aos pés do Cristo pra sarar
Enquanto isso você aqui nessa cidade a passear
Encontrou um relicário pra me dar

De relicário a presente transformar
Guardou guardou até de presente poder dar
Num dia ruim em que eu só fazia reclamar
Me disse então que tinha uma surpresa pra me dar
Menina boba custou acreditar
Que um presente de verdade fosse ganhar

Depois da aula me chamou pra passear
E logo logo um presente foi me dar
Fiquei feliz pois minhas jóias agora tinha onde guardar
Porém com tantos abraços meu presente logo logo foi quebrar
Menina boba então foi reclamar
Que seu abraço era mesmo de arrazar

Tristinho foi então pra casa a acreditar
Que do presente a menina não tinha aprendido a gostar
Chorou chorou até o presente se colar
Trouxe de volta para REpresentear

Menina boba de tanto se desculpar
Ficou feliz em saber que tudo pode consertar
Deu muitos abraços e beijinhos pra sarar
A dor que tinha causado quando o presente fez quebrar
Com tantos abraços e carinhos pra lhe dar
Menina boba esqueceu de pra casa o presente levar

Menina boba agora triste quer implorar
Que seu presente volte pra lhe consolar
O coração agora apertadinho quer chorar
Com saudade do presente que não soube cuidar

Menino fofo por favor venha me dar
O presente e me Representear
E se depois de toda essa rima você não acreditar
Que com cuidado o presente vou tratar
Tenho como trunfo muitos beijinhos pra lhe dar!

Pesadelo

Não é real. Não pode ser. Acordo assustada. O rosto lavado em suor e lágrimas apesar da temperatura do quarto estar baixa. A chuva forte faz meu pânico aumentar, o medo revira meu estômago e sinto minhas mãos tremerem. Demoro ainda dez minutos para perceber que estou no meu quarto, na minha casa e segura. Acendo as luzes na esperança de que na claridade o medo diminua, desta vez não adianta olhar meus porta-retratos, bilhetes ou qualquer outra coisa que poderia me deixar segura. Desta vez o sonho não foi com nenhuma das pessoas habituais e eu não me sentia no direito de fazer ligações em plena madrugada. Enfrentar os pesadelos sozinha era a única alternativa. Mas eu precisava me certificar que estava tudo bem, deixando as convenções de lado dei o alerta a outra pessoa me sentindo ainda em pânico mas um pouco boba. Esperei com medo de que fosse verdade até que a resposta voltasse. Por fim pude repetir com tranquilidade: Não é real, foi só um sonho ruim. Não dirigiria aquele carro que não era seu sem freio, por uma estrada no interior de outro estado que não conhece. Não andaria sem sinto e a chuva não cairia tão forte. Eu não veria a tragédia. Eu não veria. Mas sabe o que realmente me deixa em pânico a anos com este pesadelo apesar dos protagonistas sempre mudarem? A possibilidade. Sempre existe a possibilidade de que ele aconteça por mais esdrúxula que seja a situação. A possibilidade me deixa em pânico e por mais que os pesadelos sejam recorrentes, por mais que eu me prepare para que eles aconteçam sempre existirá a possibilidade de que um dia se realizem. Afinal de contas por pior que possa parecer os pesadelos são sonhos. Agarrada ao meu escapulário voltei para a cama e rezei todas as orações que consegui lembrar, menos abatida e mais calma tentei lembrar das palavras que já foram usadas para me consolar em outras situações como esta. A chuva caia mais forte e percebi que só conseguiria dormir quando ela parasse. A nova realidade me assustou, agora eu também temeria a chuva? Não sei. Ele vai voltar, o pesadelo. Sempre volta, e agora terei mais uma pessoa adcionada a minha lista para me preocupar, é como um golpe no estômago perceber o quanto gostamos do outro quando julgamos tê-lo perdido. Preparada para a possibilidade do pesadelo voltar, preparada para aceitar que não tenho poder sobre todas as coisas, preparada para o que a vida pode me apresentar tentei voltar a dormir. Sem sucesso. Não dormirei mais hoje. Não dormirei e mesmo assim tenho que repetir: Não é real.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Declaração de Amor

É oficial. Estou apaixonada por você. Muitas pessoas me avisaram disso, mas eu não quis acreditar. Não me lembro quando tudo exatamente começou, mas a sensação do descobrimento é atordoante. Há alguns anos alguém me disse que nada existia sem você, eu não acreditei, falou ainda que em algum momento da vida eu só falaria sobre você, respiraria você, dormiria com você e acordaria todos os dias com você na cebeça. Sem dar importância a premonições fui vivendo e entrelaçando minha vida a você.
Foram milhares de dias ao seu lado, vivendo bons momentos e dias dolorosos. Por sua causa conheci pessoas que hoje são basilares para minha felicidade, por você fui a lugares e fiz renúncias, as primeiras de muitas que estão por vir.
Passei muitas noites ao seu lado, amanheci muitos dias com você. Não posso negar que nem todos os momentos foram felizes. Você me decepcionou diversas vezes, quase me fez desistir na maioria delas, me fez chorar e sofrer, mas eu tenho aquela velha teoria de que amores fáceis não valem a pena.
Você me fez querer ser melhor, me fez querer aprender tudo sobre você para acompanhar sua grandeza. Muitas vezes discordei de você, e essa foi uma das partes mais difíceis, seu discurso de vez em quando é incoerente. Eu ainda me sinto intimidada na sua presença e tenho a plena certeza que nunca saberei tudo sobre você.
Das coisas importantes que tenho a lhe dizer hoje a principal delas é que não posso garantir fidelidade. Sou volúvel e me apaixono por tantas outras coisas ao mesmo tempo. Além do mais você sempre terá tantas outras garotas aos seus pés...Só posso garantir que vou continuar te amando até nos dias que te odeio.
Não posso prever quanto tempo ficaremos juntos, só posso garantir que serão muitos anos pela frente e espero poder enfrentar os dias ruins com o mesmo amor que lhe dedico nos dias bons. Nossa relação será mais séria que qualquer casamento, é mais como um sacerdócio.
Hoje especialmente me sinto meio enfeitiçada por você, espero que essa sensação dure muito tempo. Garanto a você que nos próximos anos vou tentar retribuir tudo que você me deu, vou tentar fazer valer tudo que você proclama, vou tentar não decepcioná-lo, vou tentar acompanhar sua grandeza sem ambições, mas porque ainda acredito muito em você. Se só chamá-lo de amor não bastar as outras pessoas, vou chamá-lo pelos outros nomes em que você pode ser reconhecido: Direito, Justiça, Jurisdição, Verdade, Beleza, Vida!


p.s.: Dedico este texto as amigas e amigos que sentem-se um pouquinho enamorados pelo Direito, mesmo que só de vez em quando. Dedico a quem vive dia após dia estudando na esperança que leis sejam mais que leis e que a idéia de que não há sociedade sem justiça prevaleça. Dedico a todos que ainda têm "fé no homem, fé na vida e fé no que virá"!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Luto

Fulgaz. Efêmero. Passageiro. Adoro essas palavras e assim é a vida. De todas as certezas que temos a maior delas é que um dia o beijo do acordar não mais nos alcançará. O vento não mais baterá em nosso rosto, não assanhará nossos cabelos. Não comeremos mais nossa comida preferida, não sentiremos mais o perfume da pessoa amada. Não seremos mais. Como um passe de mágica que deu errado a linha da vida é cortada e tudo que poderia ser acabou. Só nos resta dor, lembranças e a sensação insuportável de impotência que nos alcança com garras afiadas e não nos deixa. Aprender a lidar com esses sentimentos é como reaprender a viver.
A dor toma por inteiro nossos corpos e transpassa o limite do físico alcançando a alma. Ela faz adoecer cada pedacinho do nosso corpo e torna o dia-a-dia insuportavelmente sofrido, não nos deixa enxergar possibilidades, não nos abandona. Os dias passam e vamos nos acostumando com aquele sofrer que virou nossa sombra, e um dia, tão acostumados com essa sensação entorpecedora nos habituamos a ela. Sofrer não é mais uma opção, mas vamos nos acostumando e aos poucos ele passa a não ocupar todo o nosso dia, depois passa a não ocupar toda a nossa semana, com o tempo ele ocupa apenas o tempo que dedicamos a ele.
As lembranças no início são coloridas com uma camada mágica que torna tudo o que foi vivido mais bonito. É como um quadro da fase surrealista do Salvador Dali, dá margem a tantas interpretações que podemos passar horas a fio fechados para o mundo externo e abertos apenas para as lembranças que temos. Tentamos reviver cada momento na esperança de que o pesadelo não seja real e que a pessoa que amamos nos acorde deste sonho ruim. As lembranças confortam, acalmam e nos diz que aqueles momentos de amor existiram de verdade. É uma fase importante do luto, pois de vez em quando a dor é tão forte que nos faz duvidar o que foi real e o que foi imaginário.
A sensação de impotência nunca irá nos abandonar. Nada nos fará sentir melhor. Repetir a oração “eu trocaria de lugar” nos conforta, a certeza em nossos corações nos acalma, mas nada possibilita uma ação que faça com que a dor e as lembranças sejam menos sofridas. A impotência nos acompanhará por toda a vida e a pior parte dela é quando percebemos que não amamos o suficiente ou não dissemos o suficiente. Quando percebemos que as reservas foram maiores que as entregas, aí sim nos damos conta que nunca mais teremos a oportunidade de dizer de novo, de viver de novo.
Estamos marcados para sempre. Temos que seguir em frente. Qual é a fórmula? Não sei, o luto não nos abandonará, mas não podemos deixar de viver a vida. Os dias aos poucos se tornarão menos sombrios, o dilúvio de lágrimas deixará de cair, aos poucos o sol voltará. Um dia quem sabe você volte a ouvir os sinos de vento. Sim, os sinos de vento.

domingo, 21 de agosto de 2011

Presente


O presente apresenta definições que parecem explicar tempo, objeto, ou ação. O dia em que se vive, o que pode ser presenteado, o ato de presentear. Todas as definições são plausíveis e entendíveis, o que não é dito ou não é definido em nenhum dicionário são os sentimentos vividos no dia a dia ou no ato de receber atenção através de um objeto. Explicitar o que se sente é expor, desmistificar, desmascarar. É colocar as situações e ações em uma lupa e conseguir enxergar as minúcias por trás dos sorrisos. Se admitir feliz é bom. Se admitir lisonjeada também. Porque será que o momento atual foi definido como presente? Todo presente é uma dádiva? Todo minuto é uma nova possibilidade?
E porque será que o ato de transferir a posse de um objeto em definitivo a outra pessoa se denomina presentar? Que pode ser doar ou oferecer? Que há por trás do simbolismo de presentear uma pessoa numa data especial? Ou apenas presentear pelo simples fato de sentir vontade?
Quando se é uma pessoa apegada a palavras as vezes os gestos têm uma capacidade incrível de surpreender. Se temos limitações em demonstrar o quanto nos importamos ou o quanto nos orgulhamos com palavras, os gestos podem ser mais precisos? Se sentimentos não podem ser discutidos ou não nos sentimos confortáveis para rotular relações, abraços podem representar mais que abraços? E presentes podem ser recomeços?
A literalidade da palavra nos diz que presente é diferente de ausente, é diferente de futuro e mais ainda, é diferente de passado. Mas para as pessoas apegadas ao tempo o que é passado, pode ser presente e ao mesmo tempo futuro. E se o futuro é sempre uma interrogação, nada melhor então que o presente que no sentido figurado da palavra significa “gravado no coração”.
O que se pode questionar é com que facilidade o que já foi gravado pode ser apagado, e se foi gravado de verdade, mas de verdade mesmo, se o pulo no abismo já foi dado, qual a importância da variação de passado, presente e futuro? E o que isso realmente significa partindo do pressuposto de que o tempo é uma abstração?
Mais ainda, se presente quando é presentear significa: dádiva, mimo, oferta, prenda, se significa demonstrar alguma coisa que se sente por menor que seja através de um ato então para que serviriam as palavras? De que adiantariam se nem todas as palavras são tão cuidadosamente polidas como determinados atos? Se tudo quando falado em voz alta vira verdade? Se promessas para serem quebradas bastam que sejam proferidas?
Tantos questionamentos precisam ser feitos? Ou se agarrar ao instante ou objeto é o necessário para ser feliz?

Perguntas sempre serão formuladas. Certas perguntas nunca serão respondidas. Outras tantas nunca precisarão de respostas, e de verdade? o presente já é o presente!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Dúvidas

Sempre tive uma natureza questionadora. A alguns anos um professor me disse que se guardasse todas as dúvidas para mim, no fim da vida meu rosto seria uma interrogação, embora minha personalidade beirasse mais a exclamação. Nunca fui muito boa em guardar conclusões, que dirá questionamentos. De tempos em tempos caio na espiral de questionar tanto, mas tanto que acabo pairando no limiar entre a sanidade e a neurose. Me vejo novamente na encruzilhada que é viver, decidir e emergir das crises com novas resoluções. Da menina que fui com tantos sonhos e planos, quais deles eu realizei, que caminhos percorri, que atalhos peguei? Dos valores que finquei como base para minha vida, quais deles esqueci, quais venho seguindo? A pessoa que eu queria muito, muito, muito ser, eu me tornei ela, ou me perdi no meio do caminho? Dos objetivos que tracei, baseada nos sonhos que queria construir, quais eu realizei? Porque tenho a nítida sensação que a imagem que vejo não é quem sou? E se não gosto de quem sou, o que posso fazer para mudar? Se nos últimos tempos esqueci o que queria, se pelo meio do caminho eu deixei o querer sobrepor o ser, que posso fazer hoje para voltar a ser quem posso ser de verdade? Se queria ser uma pessoa genuinamente boa, desprendida, corajosa e forte, em que parcela do caminho me tornei má, egoísta, medrosa e fraca? Se as qualidades que via em mim mesma e tanto fazia me orgulhar não consigo mais enxergar o que posso fazer para voltar a possuí-las? Se profissionalmente me vejo perdida na entrada de um caminho bifurcado, se me vejo querendo coisas tão opostas, qual a melhor decisão a tomar? Se me encontro quase na linha de chegada e não me enxergo como uma pessoa competente o sufiente para cruzá-la , será que posso voltar ao início da corrida? Serei mais uma a percorrer esse caminho? Serei mais uma na multidão de gente que não quer só existir, mas sim viver? O tipo de justiça em que acreditava ainda existe? O que eu posso fazer de verdade para contribuir, sem utopias ou quimeras? Se pessoas me idealizam e projetam uma imagem da qual não me acho digna, quem vive na ilusão? Eu ou elas? Se outras tantas criam expectativas que não posso corresponder, quem se decepcionará? Eu ou elas? Se tenho a consciência que nunca serei aquilo que esperam de mim, quem sofre mais? E se na verdade tenho a obrigação de corresponder, já que todas a oportunidades me foram dadas, todo o aparato me foi proposto e tudo que quis possuí, porque não me sinto capaz? Se não me sinto no direito de expor tantas dúvidas, porque deixo você ler o que escrevo?

Fazer tantos questionamentos é sadio? Ou mais sadio é viver sob o véu obscuro da resignação?

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Valsinha para Marília

Oh! Minha pequena maravilha
Marília, meu tesouro
Mais que diamante, prata e ouro
A jóia da vida
Lapidada em fino tafetá
Pérola que a ostra nem sonhou gerar
Brilhante, safira

Oh! Minha pequena maravilha
Marília, minha estrela
Nos céus de Natal , Belém, Brasília
Nos guia e ao vê-la
Brilhar mais que a estrela da manhã
Alfa de Centauro, Aldebarã
Os magos ajoelham

Oh! Minha pequena maravilha
Marília, poesia
A mais bela rima e melodia
Na trilha da vida
Sou teu menestreu, sou teu Dirceu
Ninguém vai te amar mais do que eu
Marília, minha filha

O melhor lugar do mundo


O melhor lugar do mundo é também o mais confortável. É aconchegante quando faz frio e mantém a gente aquecida. É confortável quando se está com sono e parece um berço de criança. O melhor lugar do mundo também é bom quando estamos nervosos, ele nos trás paz, acalma e parece que consegue esticar nossos nervos. O melhor lugar do mundo é ótimo quando estamos com medo, ele nos conforta e funciona como um santuário. O melhor lugar do mundo é também o mais cheiroso, a gente fica lá aspirando aquele perfume e rezando para que ele não acabe. O melhor lugar do mundo é muito bom depois de uma briga, é meio como fazer as pazes sabe? A gente tem a sensação que vai ficar tudo bem. O melhor lugar do mundo é ótimo quando a gente está triste, ele conforta e não se importa se você dá uma choradinha, ele acalma e faz você esquecer essa tristeza as vezes tão boba. O melhor lugar do mundo é ainda melhor quando você está feliz, ele parece comemorar cada gotinha de bom humor e alegria do seu mundo. O melhor lugar do mundo é bom mesmo quando a gente tem medo, ele parece não poder abrigar bichos papões e os pesadelos não têm vez nesse lugar. O melhor lugar do mundo está sempre pronto para nos receber, não importa o quão errados estejamos ou o quanto tenhamos decepcionado as pessoas. O melhor lugar do mundo guarda nossas melhores lembranças, é como um baú sem fundo que vai guardando tudo até que estejamos prontos para olhá-las de novo. O melhor lugar do mundo está sempre de braços abertos para nos receber. O melhor lugar do mundo é um abraço, mas não é qualquer abraço. É o abraço da minha mãe, o melhor lugar do mundo, o melhor abraço do mundo, a melhor mãe do mundo.

domingo, 14 de agosto de 2011

Perguntas que dão frutos

. Quem olha para você do outro lado do espelho?

. O que é real e o que é imaginário ali?

. Há encontro entre seu corpo e seu reflexo?

. Você leva sua vida como um presente?

. Você conseguiu ser o que queria ser quando crescesse?

. Você cresceu?

. Você já desejou ser outra ‘coisa’?

. Você tem medo da sua sombra?

. Sua presença entra em sintonia ou faz barulho na casa da Vida?

. Você acredita na felicidade fora da perfeição?

Querer e poder nem sempre alcançam uma harmonia perfeita na ciranda do Existir, mas nem por isso nossa história deixa de ser bela. Entre cores e poesias, entre perguntas com e sem respostas, entre a dor e o amor, e com uma grande vontade de aceitar as simplicidades e frustrações, o importante é não perder o frescor dos traços que formam o esboço e o fascínio do nosso viver.

E quanto as perguntas da vida, ao que houver resposta, respostas se darão, e ao que não for de respostas, ficam sendo perguntas que caem ao chão.

Viram sementes e germinarão.

Aposta

Duas da manhã. A hora crucial em que decidiam se voltavam para casa ou pulavam para a próxima festa. Fizeram uma aposta: Duvido que você convença aquele cara lá no cantinho do bar que ele foi seu primeiro amor. Duvido.
Aposta aceita, arrumou o cabelo, retocou o batom, pegou mais uma cerveja no bar e saiu em dispara em direção a sua missão.
Bate no ombro do desconhecido.
-Oooi, Felipe!
-Meu nome é Gabriel.
-Não, não! É Felipe, estudei com você na quarta série. Não lembra de mim?
-Não tenho como ter estudado com você, não sou daqui.
-Estudou sim, você era gago e foi meu primeiro amor...
(...)
Horas depois os dois saem de mãos dadas. Namoraram por trê anos. Ele não foi seu primeiro amor, mas depois de alguns traumas ficou gago.
Aposta ganha.

Feliz dia dos Pais

Para todos aqueles que trocaram fraldas, colocaram para dormir e contaram uma história. Para aqueles que aprenderam a pentear os cabelos das filhas e fazer tranças bonitas. Para aqueles que ensinaram a amarrar os cadarços dos tênis e cuidaram dos machucados nos joelhos dando beijinhos depois. Para aqueles que foram nas apresentações do bellet, assistiram tudo da primeira fila e ainda filmaram como se fosse uma obra imperdível. Para aqueles que ensinaram os filhos a ler antes das outras crianças da escola e mostraram o mundo de possibilidades que isso representava. Para aqueles que levaram para andar de trem, de ônibus e compraram sorvete de pistache na volta para casa. Para aqueles que levaram os filhos para acampar, mesmo que fosse no quintal de casa. Para aqueles que compraram papagaios, patos, guinés, hamsters, cavalos, cachorros, gatos, ou qualquer outro bicho de estimação que fizesse sentindo para as filhas na época. Para aqueles que faltaram ao trabalho para cuidar de catapora, sarampo ou piolho. Para aqueles que levaram nas aulas do inglês, do francês ou qualquer outra aula. Para aqueles que foram nas reuniões da escola. Para aqueles que deixaram as filhas tomarem banho de mar com suas roupas mais chics. Para aqueles que ensinaram a andar de bicicleta. Para aqueles que compraram pizza para comemorar o aniversário da barbie. Para aqueles que levaram a igreja e ensinaram a rezar. Para aqueles que tornaram a infância dos filhos especial, para aqueles que dedicaram tempo, cuidado e amor. Para aqueles que foram Pais no sentido real da palavra. Para aqueles que são Pais. Para aqueles que serão Pais. Feliz dia dos Pais.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Phelps

Querida, não há muita coisa a dizer e mesmo assim me sinto compelida a escrever para você. Não é seu aniversário e não ficaremos longe uma da outra por tanto tempo assim. Acontece que sinto um necessidade incrível de ter você na minha vida. Sinto uma necessidade absurda de ouvir sua risada. Você chegou na minha vida de mansinho e foi preenchendo espaços que quase não existiam. Nosso primeiro encontro foi marcado por um amor em comum: sapatos. Eu ainda lembro os sapatos que você usava, e meu bem eles eram lindos.

Tomou conta dos meus dias, das minhas risadas e também das minhas aflições. Companheria da primeira cadeira na fila e partilhamos o amor ao melhor professor que já tivemos. Aos poucos foi participando da minha vida pessoal de um modo como outras pessoas nunca terão acesso e você sabe disso. Nós compartilhamos tantas alegrias, tantas tequilas, tantas cervejas e compartilhamos lágrimas, aflições, medos.

Mensagens desesperadas do Rio de Janeiro: Estou voltando. Mensagens desesperadas de Natal: O namoro acabou. Nós nos entedíamos na dor dos fins dos relacionamentos e fizemos juras de não namorar sério enquanto vivermos, que estão para serem quebradas não é meu bem? Nos divertimos as custas dos outros e viramos críticas de moda ferrenhas. Nos esforçamos por um objetivo e descobrimos que somos por inteiro garotas-ministério-público. Que de mais belo há do que a descoberta de um novo amor?

Somamos nossas inseguranças, nossos desejos e nosso pouco dinheiro. Viramos a família mais sólida que eu conheço e no fim das contas eu finalmente tive minha família de comercial de margarina. Você entende isso num nível tão profundo que outras pessoas jamais entenderão. Com você não tenho defesas nem barreiras emocionais. Com você eu sou livre para sentir e demonstrar de um modo como sempre achei que não fosse capaz. Você me inspira tanta confiança que não saberia mais não tê-la em minha vida. Quem mais choraria comigo numa escada as quatro da manhã? Seguraria minha mão, me abraçaria e prometeria que ia ficar tudo bem, mesmo sem ter certeza? Quem mais se preocuparia se eu estava magoada demais com minha família para perdoar? Quem mais torceria tanto por mim?

Você acredita em mim de um modo que nem eu mesma consigo. Sempre foi minha maior incentivadora: Escreva, você precisa e sabe disso. Você lê qualquer coisa que eu escreva e acha lindo, mesmo que só haja dor, enxerga tanta beleza onde só deveria haver tristeza. E quando eu te ligo dizendo que estou extraordinariamente feliz você fica feliz também não importa o que esteja acontecendo em sua vida. Cuida de mim quando eu estou doente de um modo que só uma mãe faria.

Sinto necessidade de me desculpar se eu fui egoísta com você alguma vez, a gente sempre acaba magoando quem ama demais. Odeio minimizar seus problemas, mas quero demais que você seja feliz, mas a felicidade sempre vem a galope e chega rápido para os merecedores. Você vai ao encontro dela desta vez, e sabe o que mais? Não julgo, o amor é raro demais para ser deixado de lado por problemas menores.

A coisa mais importante que eu tenho a dizer é que eu também encontrei minha alma gêmea. E é você. Nós sabemos disso a algum tempo não é? Nos entendemos rápido demais e isso é simples. Este relacionamento é o mais simples que eu tenho em minha vida. É básico, puro, verdadeiro e leal. Não há barreiras, restrições, ponderações ou desconfianças. É engraçado, pois há uma certeza que nunca tive. Prestou atenção no nosso diálogo hoje? “Você deve se sentir no direito de ligar”, “Eu ligo para você porque você me ama”, “Volto a qualquer hora que você precisar”. Já reparou quando vamos desligar o telefone? As últimas palavras que sempre dizemos e as pessoas riem? “Amo você”. É lindo!

Já comprovamos que não há distância e não há tempo, não há doença e não há dor, não há medo e não existem planos que mudem o que construímos. Você é a irmã que eu ganhei do céu e é a família que eu conto. Amo você de um modo básico e simples. É isso.

“Só há um Phelps que eu ame na vida”

P.S:Insira aí as atualizações que quiser, traidora do movimento!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Carta

Estive aqui sentada, desenrolando uma pergunta entre os dedos: de onde a gente começa a escrever uma carta? Em qual fatia do tempo ou do espaço? Em qual gesto? Em qual silêncio? Em qual rua estreita ou imaginária, a gente começa a levantar uma ponte sobre os longes de alguém? E até onde podem ir as palavras?
Porque existe isso de me sentar nessa mesa e desenrolar outra pergunta entre os dedos: até onde a gente pode escrever uma carta? Até a rua mais próxima? Até um brinquedo velho, feio, esquecido na infância? Até uma folha flutuando no lago? Ou até os outros olhos no espelho?
Porque também existe isso de me sentar naquela cadeira a sua frente, e liquefazer os meus labirintos, desaguando a solidão em palavras. Palavras que vou tecendo nessas linhas até escapar do Minotauro. Qual a distância segura entre as palavras e o corpo? Ou entre os textos e a pele? Ou entre os tecidos e as teias?

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Dual

Tem gente que consegue ser despegado de todas as coisas, tudo é irrelevante, tudo pode ser deixado de lado e tudo vira vazio, pois nada é importante demais ao ponto de preencher os muitos espaços que se têm dentro de si. Tem gente que consegue viver sem se preocupar com muita coisa, tudo é simples e tudo é lindo, toda dor ou amor é fácil e fulgaz demais. Tem gente que descomplica tudo e vive plenamente, tudo é como o desatar de nós de um colar guardado a muito tempo. Tem gente que tem habilidades para acalmar e apaziguar, tudo é meio termo e tudo pode ser resolvido. Tem gente que consegue decidir a vida e não muda de idéia, todo plano é posto em prática, toda decisão é imediata. Tem gente que consegue esquecer com facilidade, toda a memória dura três segundos. Tem gente que consegue lembrar, tudo que é vivido é revivido. Tem gente que consegue não se importar e tudo acaba sendo mais fácil, nenhuma preocupação, nenhuma dor de cabeça, nenhum sofrimento. Tem gente que consegue se importar, tudo é mais verdadeiro, tudo é real. Tem gente que sabe a fórmula dos problemas e tudo vira equação com resultados do tipo dois mais dois. Tem gente que consegue e sabe.
Tem gente que é apegado demais, tudo é importante demais e intenso demais. Tem gente que se preocupa demais, tudo é para ontem e tudo é difícil. Tem gente que complica demais, tudo é abismo ou tudo é montanha. Tem gente que é como uma guerra, toda palavra é ordália, tiro ou bomba atômica. Tem gente que é indeciso, todo sim dura o tempo de dizer um não. Tem gente que esquece com facilidade e todo erro é cometido mais de dez vezes. Tem gente que lembra com facilidade e todo rancor é revivido dia após dia. Tem gente que não se importa, não há consideração, não há sentimento. Tem gente que se importa, nada que se faça é corresponder o suficiente. Tem gente que sabe a fórmula dos problemas, nada é aprendido, pois sem dor não há crescimento.
Há todo tipo de gente no mundo. Gente que consegue e sabe, gente que não consegue e não sabe. Há todo tipo de gente dentro de cada um de nós.